Ultrapassagem
Todo movimento social de grandes proporções, quando adquire uma dinâmica própria, tende a ultrapassar suas próprias lideranças e criar fatos novos que rapidamente transformam todo o ambiente político.
As grandes manifestações da semana passada já deixaram para trás muita gente, a começar pelo movimento Passe Livre, que assustado com a dimensões que os protestos alcançaram, prudentemente declarou que não iam mais convocar nenhuma manifestação, embora tenha participado de audiência com a presidente Dilma, confirmando seu protagonismo.
A segunda vítima foram os partidos, principalmente os de esquerda, acostumados a liderar protestos e desta vez expulsos pelos manifestantes, justamente por fazerem parte de todos os conchavos políticos que estão na base do descontentamento popular.
O PT ficou mudo e o PCdoB entrou em clima de histeria, com alguns setores tentando distorcer os fatos e acusando os manifestantes de nazistas e fascistas, porque segundo eles, estariam contra a existência de partidos políticos.
Que eu saiba ninguém propôs uma democracia sem partidos. O que está ocorrendo é um rechaço aos partidos que estão aí hoje, que não representam mais nada além de seus interesses corporativos.
Isso não quer dizer que eles não tenham uma história. Comunistas e petistas lideraram muitas campanhas importantes na história recente do país, mas desde que chegaram ao poder se acomodaram e passaram a se corromper, sim o termo é este mesmo, na repartição dos cargos públicos e seus benefícios. A Faxina promovida pela presidente Dilma no início de seu governo foi pródiga em demonstração de que existe gente corrupta dentro desses partidos. Só para exemplificar, vamos lembrar do caso do antigo Ministro dos Esportes, do PCdoB, Orlando Silva, demitido pela presidente Dilma por corrupção, enquanto o PCdoB fazia cara de paisagem.
Quanto ao PT, o processo do mensalão revelou fartamente as tramóias em que estava envolvido.
Os partidos de direita, estando ou não na base aliada, tem um longo histórico de corrupção e de fisiologismo, que vai apodrecendo todo o sistema político brasileiro. O PMDB nem se fala.
Então, querer acusar os manifestantes de fascistas por repudiarem estes partidos que estão aí, beira o ridículo.
Os sindicatos também foram expulsos das manifestações, porque, a bem da verdade, não tem feito nada a favor dos trabalhadores nos últimos anos.
Os sindicatos também foram expulsos das manifestações, porque, a bem da verdade, não tem feito nada a favor dos trabalhadores nos últimos anos.
Até agora, quem não foi ultrapassada pela dinâmica dos protestos foi a presidente Dilma, que parece ter conseguido agarrar o touro à unha, com a proposta da constituinte exclusiva para a reforma política, e a abertura das discussões sobre as reformas educacional e da saúde.
Isso retira os debates do campo das especulações e do achismo, encaminhando-as para o foco necessário: as reformas que precisam ser feitas na sociedade brasileira. A tipificação da corrupção como crime hediondo, é uma boa iniciativa, mas ainda é muito pouco. Seria necessário fazer uma devassa no patrimônio público das autoridades de todos os níveis, para detectar o enriquecimento ilícito. Uma espécie de Operação Mãos Limpas, como foi feito na Itália.
Quanto ao pacto pela mobilidade urbana, creio que é preciso ir mais longe, abrindo o debate sobre uma verdadeira reforma urbana, que acabe com a especulação imobiliária nas nossas cidades, causa do favelamento, das mortes por desmoronamentos e também dos grandes deslocamentos dos trabalhadores, obrigados a morar longe do trabalho pelo alto custo dos imóveis.
Uma regulação rígida do uso do solo e o controle sobre os lucros das empresas de transporte e das construtoras (maiores financiadoras de campanhas eleitorais nesse país), é imprescindível para melhorar as cidades, democratizar a propriedade imobiliária e acabar com a corrupção.
De qualquer forma houve um avanço, uma resposta rápida e positiva do governo federal.
A direita e os interesses corporativos rapidamente se manifestaram contra uma constituinte exclusiva, que tira deles o poder de defender seus privilégios e de barganhar votos em troca de vantagens.
As propostas da presidente de destinar 100% dos royaltes para a educação e contratar médicos estrangeiros, que contrariam interesses poderosos, agora tem chance de virarem realidade
Cabe à população, agora, apronfundar este debate, ultrapassando de vez os interesses privados e corporativos que entravam o progresso social da nação.
A direita e os interesses corporativos rapidamente se manifestaram contra uma constituinte exclusiva, que tira deles o poder de defender seus privilégios e de barganhar votos em troca de vantagens.
As propostas da presidente de destinar 100% dos royaltes para a educação e contratar médicos estrangeiros, que contrariam interesses poderosos, agora tem chance de virarem realidade
Cabe à população, agora, apronfundar este debate, ultrapassando de vez os interesses privados e corporativos que entravam o progresso social da nação.