quinta-feira, 19 de junho de 2014

VOLUME MORTO

Volume Morto



          As ofensas à presidente Dilma em partidas da copa, originadas  das áreas "vips" dos estádios, mostram o desespero de uma elite branca e decadente, herdeira da escravidão que assolou o país por 388 anos e nos jogou num atraso secular.
          Muito já se tem falado sobre o desprezo dessa "elite", na qual se enquadra grande parte de uma classe média que se beneficiou do "milagre econômico" da ditadura militar e hoje se ressente da ascensão das classes C e D aos templos de consumo, outrora reservados só para eles.
          Não querem ver negros, pardos e ex-pobres nos shoppings, nos aviões ou dirigindo carros novos, "prejudicando" o trânsito das ruas, que antes eram privilégio dos brancos, herdeiros dos colonizadores europeus. Muito menos vê-los ocupando os lugares, antes destinados apenas para eles, nas universidades e nos melhores empregos públicos.
          Mas as mudanças no Brasil são essas mesmo, e vem para ficar. Estamos deixando de ser um país dividido entre uma minoria privilegiada e uma imensa maioria explorada e miserável e passando a ser uma grande sociedade de consumo, com uma enorme classe média emergente que faz toda a diferença na nossa economia, nos transformando de país exportador em um grande mercado consumidor.
         Antes, as oposições a essa política de democratização implantada pelos governos da coalizão liderada pelo PT, se organizavam em protestos, candidaturas de oposição ou em movimentos políticos do tipo "cansei", que agrupavam gente rica e chique. Pensavam que essas mudanças seriam temporárias e logo a velha ordem voltaria a se impor, como sempre ocorreu durante os mais de 500 anos de existência desse espaço geográfico e étnico chamado Brasil.
         Mas com o prolongamento da experiência democratizadora e perspectivas de que possa inclusive se aprofundar, com as cotas para negros no serviço público e a criação de Conselhos Populares, a velha elite se agita em desespero de causa. Sabem que estão perdendo o jogo, que o poder a cada dia se afasta de suas mãos e que suas lideranças vão morrendo, desaparecendo, sem que eles sejam capazes de sensibilizar a opinião pública para a volta das velhas políticas elitistas.
         Eles não tem outras propostas que não a volta a um passado nada glorioso, de miséria e submissão a potências estrangeiras, que lhes garantiam privilégios muito cômodos e o direito de dividir com os neo-colonizadores o desfrute de um país riquíssimo, enquanto mantinham o povo dominado.
          Seu desespero aumenta na medida em que sua influência política mingua, como as águas do sistema Cantareira do incompetente governo tucano de São Paulo, que em 20 anos no poder estadual foi incapaz de prever a falta d'água, assim como o governo Fernando Henrique foi incapaz de impedir a falta de energia elétrica no país.
         Estão usando suas últimas reservas de prestígio político, para tentar reverter a situação e impedir a derrocada total. Tornaram-se uma espécie de "volume morto" da política nacional, e apelam agora para os Black Blocks, aliados ao PCC e outras facções criminosas, para tentar um golpe de Estado que os recoloque no poder, reeditando a velha política conservadora inspirada no positivismo dos tenentes da década de 1920, que sustentou duas ditaduras sanguinárias para construir um país rico para poucos.
         Quando nem mais isso funciona, só lhes resta xingar a presidente, do alto dos seus camarotes "vips" nos estádios, cujos ingressos custam por volta de R$1.000,00.
         A classe média branca que estava nas arquibancadas ainda os acompanhou, desta vez. Mas não por muito tempo. Logo a cor desta classe média vai estar bem mais morena e só restará ao reservatório das forças da direita, o lodo do fundo dos reservatórios do ódio racial e de classe ao povo brasileiro.
        Desse lodo nada brotará, até que a enxurrada das novas gerações termine de reconstruir o Brasil, quem sabe aperfeiçoando mais e mais esse projeto político, eliminando um sistema ainda baseado em conchavos e clientelismo e radicalizando a nossa democracia.
          

ADIÓS ESPAÑA

Adiós España


          Meus amigos, foi deprimente ver a seleção espanhola, campeã europeia e da última copa do mundo, ser eliminada logo nos dois primeiro jogos da primeira fase. No primeiro jogo - estivemos presentes na belíssima Arena Fonte Nova - vimos uma Espanha apática ser goleada, impiedosamente, por Robben e Cia. No segundo jogo a seleção Chilena, com muita garra, colocou a última pá de cal sobre a era tiki-taka. O mais impressionante foi o comportamento dos atletas: apáticos e entregues em campo, envergonhando seus torcedores, que sempre se orgulharam em chamar sua seleção de fúria. Resta aos comandados de Del Bosque um amistoso de luxo contra a também eliminada Austrália. !


Os hooligans da atualidade


       A polícia brasileira prendeu cerca de cem torcedores chilenos que invadiram o centro de imprensa do Maracanã para assistirem ao jogo entre sua seleção e a Espanha. Foram momentos de terror para os jornalistas. Houve muita correria e gritos. Os hooligans chilenos derrubaram uma cerca e duas paredes até serem contidos e levados para a delegacia. A federação chilena repudiou a atitude dos baderneiros e estuda uma punição severa. Bani-los dos estádios seria um grande exemplo !



CLIPE DA SEMANA

              O clipe desta semana é da canção BEIJA EU, composta por Arnaldo Antunes, Arto Lindsay e Marisa Monte, interpretada por Marisa Monte. Divirtam-se !




Marisa Monte

PATRIMÔNIO ABANDONADO

Patrimônio abandonado

          
          Na minha terceira visita à São Francisco do Conde, terra de parentes de Adriano, fiz questão de conhecer o convento de Santo Antônio, construção de mais de 400 anos, que faz parte da história da Bahia e do Brasil.
          Guiado por uma pessoa que pertence à comunidade da igreja local, com acesso a todos os compartimentos térreos importantes (o andar superior é reservado aos religiosos), fiquei maravilhado com a beleza do edifício e chocado com seu abandono.
           O belíssimo forro da nave principal, com pinturas importantes, está desabando, no maior abandono. O piso interior de ladrilhos está afundando, assim como a base de mármore do altar principal.
           Nos buracos que se formam com o afundamento do piso, enormes aranhas caranguejeiras fizeram suas tocas e nos olham desafiadoras, convictas de que o seu território nunca mais será reconquistado pelos homens.
           Azulejos portugueses maravilhosos necessitam de reparo urgente.


           O reboco das paredes está caindo e sobre a torre da igreja, grandes árvores já vão tomando conta do telhado, deixando tudo com um ar desolador.

          Aliás, esta é a paisagem dos prédios históricos por todo o recôncavo baiano.
          Segundo a pessoa que nos guiou, um processo de restauração está pendente na superintendência do IPHAN há anos, para este monumento tombado, sem nenhuma resposta.
          O que está acontecendo com o IPHAN da Bahia, que não cuida de suas cidades mais importantes? Para onde est´pa indo o dinheiro do PAC das cidades históricas, na Bahia?
          Já é hora de alguém investigar isso.
   

SONETO DO AMOR TOTAL




Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes

RAPIDINHAS

A esperança venceu o ódio


          
          A melhor notícia da semana foi a vitória de Juan Manuel Santos, reeleito presidente na Colômbia.
          Apesar de toda campanha terrorista do ex-presidente Uribe contra o diálogo de paz com as FARC, o povo colombiano votou claramente pela paz, na esperança de encerrar um conflito que já dura mais de 50 anos.
           O resultado das conversações de paz pode abrir um novo capítulo na história colombiana, com a verdadeira democratização daquela sociedade, dividida entre uma elite encastelada, que resiste às menores concessões aos trabalhadores e uma esquerda incapaz de construir uma agenda política democrática.

 A rainha do rádio nos deixou


          
            Marlene, a rainha da era de ouro do rádio, junto com Emilinha Borba, nos deixou aos 91 anos, na sexta-feira 13 de junho. Seu nome verdadeiro era  Victória Delfino dos Santos. Ao longo de sua carreira ela gravou mais de quatro mil canções que encantavam seus fãs de norte a sul do Brasil, sintonizados na Rádio Nacional, numa época em que não existia a televisão.
          
A festa das torcidas


          Sucesso total da Copa do mundo 2014. Jogos espetaculares, com uma invasão inesperada de torcedores do mundo inteiro, como nunca se viu no Brasil. A festa das torcidas é um espetáculo à parte e mostra como é possível um mundo onde os povos convivam em paz.
  
Corpus Christi 
em Rio de Contas 


           Mais uma vez a festa de Corpus Christi deixou turistas boquiabertos, com a beleza da "noite das lanternas" no dia 18 de junho e os tapetes coloridos para a procissão no dia 19. Mesmo quem não é católico curte a atmosfera da velha cidade colonial, toda enfeitada e admira a fé do povo.

           Pena que este ano os políticos tenham invadido a festa, de olho na exposição na mídia, visando as eleições 2014.  
           Dureza ter dividir uma festa tão bonita com gente que cheira a oportunismo e a mofo, tipo Paulo Souto e outros fantasmas do passado que quase transformam a festa numa autêntica procissão das almas.


          Mas nada tirou o brilho dessa festa tão bonita, que a cada ano atrai mais gente de todo o Brasil

 

COPA DOS RISOS








segunda-feira, 9 de junho de 2014

POLITICANDO

Viva a Copa
Abaixo a Copa

O monumental Estádio Nacional Mané Garrincha
Desde o início das manifestações no ano passado, me posicionei à favor da realização da Copa do Mundo. Afinal era um compromisso internacional assumido pelo Brasil e uma oportunidade de gerar milhares de empregos numa época em que o país luta para não ser contaminado pela recessão que levou para o buraco duas das maiores economias do planetas; Estados Unidos e União Europeia.
           Não é fácil se manter num cenário econômico tão negativo como esse, sem recorrer às medidas tradicionais de arrocho salarial e corte de investimentos, que provocam desemprego em massa, fazendo com que os pobres paguem a conta pela irresponsabilidade dos banqueiros.
          O Brasil vem insistindo numa trajetória diferente, procurando manter empregos e aumentar o poder de compra dos trabalhadores, procurando ampliar um mercado interno deprimido por décadas de medidas de austeridade, que só fizeram o país andar para trás. Um novo mercado interno, mais forte, formado pela alta do salário mínimo e da renda em geral dos trabalhadores, tem o dom de substituir as exportações que antes fazíamos para os países ricos, mantendo as empresas em atividade e a economia girando.
          É uma lógica simples. Nos primeiros momentos da crise, o então governo Lula optou por estimular o consumo, aumentando salários e reduzindo impostos, mas isso tem um limite, pois pode provocar a volta da inflação, coisa que ninguém deseja.
          Ao atingirmos este limite, foi necessário criar grandes programas de investimentos governamentais que injetassem bilhões de Reais na economia, através de obras de infraestrutura que continuem gerando empregos, fazendo a roda da economia girar. A copa veio a calhar, como um desses programas, movimentando grande somas de recursos na construção de estádios, inicialmente, e depois em aeroportos, e obras de mobilidade urbana, que agora começam a ser inauguradas.
          Outros grandes investimentos foram e estão sendo feitos em rodovias, ferrovias e portos, além de um gigantesco investimento em pesquisa de petróleo no pré-sal.
         Mas se tudo isso permitiu que o Brasil não parasse, mergulhando na depressão e no desemprego, mantendo um dos níveis de emprego mais elevados do mundo em plena crise e recuperando décadas de atraso nos investimentos em infraestrutura, por outro lado não permitiu que mantivessemos uma taxa de crescimento alta, embora ainda estejamos crescendo muito acima dos países ricos. É um preço a pagar. Melhor crescer pouco com emprego e distribuição de renda, do que fazer a tradicional "reforma fiscal", cortando custos até que a economia se reequilibre, como estão fazendo os países do hemisfério norte, para depois relançar a economia.
         Tudo bem então. Mas esta semana assisti na TV Câmara, um documentário sobre a construção do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, e pela primeira vez fiquei em dúvida sobre os investimentos realizados para esta copa do mundo.
          O documentário foi muito bem feito, acompanhando todas as etapas da construção do estádio, e ouvindo ao longo de todo esse período, políticos, arquitetos, empresários trabalhadores e cidadãos comuns, contra e à favor da obra e da copa.
          Os argumentos mais frequentes contra a construção, eram o preço excessivo do estádio, numa cidade em que o sistema público de saúde é reconhecidamente péssimo, como aliás em todo o Brasil.
          Quem conhece o Hospital de Base, o maior do Distrito Federal, sabe dos horrores que acontecem ali, bem pertinho do gigantesco estádio.
 Pacientes sendo atendidos em macas no Hospital de Base
           O que mais me chocou foi perceber a desonestidade de políticos e empresários ao anunciar, no primeiro momento, o custo de cerca de 650 milhões de reais  para o estádio, e depois admitir que esse preço era só para estrutura, não incluindo cadeiras, painéis eletrônicos, acabamentos em geral e até mesmo o gramado.
           Ficou bem claro que houve desonestidade e má fé, na tentativa de ocultar o preço real da obra. Não se tratou de superfaturamento, desvio de verbas, ou roubo de alguma espécie, mas simplesmente de desperdício de dinheiro público numa obra grande demais para uma cidade que não tem nenhum time de futebol na primeira divisão.
           Comparando-se as necessidades do sistema de saúde com o imenso gasto no estádio, cujo custo final chegou a 1 bilhão 488 milhões de reais, quase três vezes o anunciado no início, realmente é um contrasenso. Quem ganhou com isso? As construtoras, principalmente.
          O próprio Jerome Walcke diz numa entrevista que aquele é um dos melhores estádios do mundo. Um trabalhador diz também que a arena ficou melhor do que o Maracanã. No final ficamos sabendo que o Mané Garrincha é o terceiro estádio mais caro do mundo até hoje.
          As outras novas arenas construídas, ficaram em torno de 40.000 lugares. Porque fazer um estádio para 70.000 lugares, que só perde no Brasil para o Maracanã, numa cidade sem tradição futebolística?
          Não se pode deixar de dar razão aos manifestantes, que protestavam contra a obra monumental, embora se possa lembrar que esses mesmos argumentos foram lançados contra a construção de Brasília, com sua monumentalidade, que depois provou ser uma obra necessária para a ocupação do centro-oeste brasileiro. Podemos ainda argumentar que a construção dos grandes estádios como o Mineirão e o Beira-Rio, durante a década de 1960/70, serviu para elevar o nível do futebol em estados que não tinham grandes times, como Minas e Rio Grande do sul, tirando o esporte do reduzido circuito Rio-São Paulo.
           Aliás, um dos objetivos mais bem sucedidos da FIFA, com seus grandes eventos tem sido popularizar o futebol pelo mundo, difundindo pela Ásia e África, um esporte que era restrito a Europa e América do Sul. Assim, a tendência é que as novas arenas elevem também o nível do futebol em lugares como Bahia, Amazonas, Mato-Grosso e Pernambuco.
           Mas tudo isso ainda não explica o alto luxo do Mané Garrincha. Realmente houve um exagero ali, um gasto excessivo de dinheiro público, e não há como deixar de dar razão aos cidadãos que o comparam com a pobreza dos hospitais públicos. Ainda mais numa cidade governada por um médico, como Agnelo Queiroz.
          Faltou aos manifestantes, porém, compreender que se o estádio não tivesse custado tão caro, de qualquer forma o dinheiro público economizado não teria ido para os hospitais, pois o que impede a saúde pública de oferecer um bom serviço à população não é a Copa do Mundo, mas o sistema privado de saúde que, com a cumplicidade dos médicos que atuam nos dois sistemas, precisa que o sistema público seja ruim para que o privado garanta seus lucros.
          Para melhorar a saúde seria preciso restringir a promiscuidade reinante entre os dois sistemas, que faz com que o médico atenda mal no público e encaminhe o paciente para a clínica da qual ele é sócio. Médico do sistema público tinha que ter dedicação exclusiva, impedido de atuar no sistema privado.
         O próprio SUS é uma ficção, baseada em Conselhos de Saúde que não funcionam, aparelhados por prefeitos e políticos. Uma utopia petista completamente falida.
         Diante dessa realidade, só posso torcer que essa copa acabe logo, para que possamos voltar a nos debruçar sobre nossos problemas. Mas para alguma coisa ela já serviu: mostrar ao povo brasileiro que existem recursos suficientes para fazer as obras que o povo demanda, acordando a consciência do brasileiro para exigir os seus direitos.
         

          
         
          
          

PAPO DE ARQUIBANCADA

De olhos bem abertos


        Meus amigos, às vésperas da copa do mundo, com toda a equipe concentrada e treinando, o torcedor brasileiro - falo da torcida paulista, no último amistoso com a Sérvia -  resolve ir pro estádio vaiar a nossa seleção e fazer coro à favor de alguns jogadores. Todo mundo tem o direito de se manifestar, desde que haja coerência: pedir Luis Fabiano em lugar de Fred é de uma imbecilidade ímpar. Pegar no pé do Neymar por ter sido revelado em um clube rival, logo nossa maior estrela, é de uma irracionalidade singular. A Copa está ai e vamos torcer por nossa seleção, vamos receber os turistas com carinho, comemorar cada gol dos nossos jogadores e quem sabe o hexa, sem deixar de lutarmos nas ruas, e, principalmente nas urnas, por um país melhor, padrão dignidade.     
       Chega de ficarmos valorizando os Messis e Cristianos Ronaldos do mundo. Nós fabricamos os melhores jogadores da história, somos uma potência emergente e os Estados Unidos já não são mais o presidente do mundo. Pra frente Brasil !



CLIPE DA SEMANA

Caros leitores, o clipe desta semana é da canção EVERYBODY HURTS, do grupo R.E.M., uma banda de rock norte americana. Curtam !

DESTAQUE

Crônica de um rio assassinado

 A beleza da Serra das Almas, onde nasce o Taquari
         O Rio Taquari nasce na Serra das Almas, em plena Chapada Diamantina, no município de Livramento de Nossa Senhora, Sudoeste da Bahia, atrás do Pico das Almas, o mais alto do nordeste do Brasil, com mais de 2.000 metros acima do nível do mar. Seu percurso tem apenas 25 km, até desembocar no Rio Brumado, importante afluente do Rio de Contas.
         Mas logo na sua nascente, suas águas são escandalosamente roubadas por 26 tubos de grosso diâmetro, deixando pouca coisa para o leito original. Essas águas, retiradas sem outorga, servem para irrigar as lavouras de manga e maracujá da região e até mesmo para serem vendidas a carros pipa, atividade que dá mais lucro do que a agricultura.

A nascente do rio, já com tubos que coletam suas águas límpidas

Alguns dos 26 tubos que roubam as águas do Rio Taquari

          Mas infelizmente, quando o rio chega na planície suas águas já foram completamente roubadas, deixando apenas um leito seco.


À esquerda o leito do Rio Taquari e à direita do seu "afluente", o Rio do Ouro
Ambos completamente secos pela retirada de ilegal de água.

          A confluência dos rios Taquari e do Ouro, virou uma imagem triste da irresponsabilidade ambiental.
          Mas apesar desta situação, em épocas de chuvas intensas o Taquari ainda consegue correr e por isso foram feitas enormes barragens clandestinas para interceptar suas águas mais abaixo deste ponto.

Essa barragem foi escavada no leito do Taquari, para represar suas águas em épocas de enchente 
A terra retirada daqui foi usada para aterrar várzeas e lagoas na cidade de Livramento, "fabricando" lotes urbanos que são vendidos a peso de ouro.

          Como as águas não fluem normalmente para encher essa barragem (que na verdade não é uma barragem, mais uma grande cratera escavada no leito do rio), foram feitos poços artesianos, também sem licença, para enchê-la com água do subsolo.
Água de poço artesiano fluindo para dentro da "barragem"
          Esta outra barragem foi escavada lateralmente ao rio, de forma a captar a água que extravasa do seu leito normal, quando ele inunda a várzea em épocas de enchente.

Barragem lateral. O rio corre lá atrás, sob a copa das árvores.
          Mas como o rio não tem corrido mais, muito menos extravasado , o proprietário instalou uma bomba para captar água direto do leito do rio.

A bomba que devia ser submersa, ficou perdida no leito seco do rio.

          Mas a bomba ficou lá, perdida, no meio do leito seco. Caso o rio consiga ultrapassar as barragens anteriores e chegar até este ponto, sofrerá nova agressão, sendo bombeado para a gigantesca barragem lateral.
          Mas então, com a água do rio toda roubada, que água é aquela que corre imunda por debaixo da ponte do Taquari? A resposta está aqui, no chamado "Pinicão" de Livramento.

O "Pinicão" abandonado.

           O "Pinicão", como é chamado pela população de Livramento, é uma lagoa de estabilização, onde eram jogados os esgotos da cidade, antes de serem lançados no leito (agora seco) do Rio Taquari. A água que corre para dentro dele, é fornecida à cidade pela Embasa, empresa estadual de saneamento, vinda de uma barragem feita para fornecer água potável. É, portanto, água de outra fonte, de outro rio, que não o Taquari, depois de usada pela população, e que escorre para lá em forma de esgoto.
          As lagoas de estabilização são formas de tratamento primário de esgotos (sobre este tipo de tratamento ver http://www.ufpi.br/subsiteFiles/ces/arquivos/files/Parte%20II-4-Lagoas.pdf),  eficientes quando recebem manutenção adequada. Nesse caso, a lagoa é composta por três tanques, por onde os esgotos iam passando sucessivamente, depois de receberem tratamento químico e sofrerem um processo de precipitação, que removia parte dos poluentes, permitindo que seu efluente fosse lançado ao rio sem causar grande prejuízo ao meio ambiente.
          Mas o "Pinicão" de Livramento encontra-se em estado de total abandono. Além da falta de manutenção e manejo, a tubulação que leva o esgoto está rompida, fazendo com que o fluxo de esgotos seja desviado diretamente para o leito seco do Rio Taquari.

Ponto onde a tubulação de esgotos está rompida, na entrada do "Pinicão".

            A partir deste ponto, os esgotos provenientes desta tubulação correm pela várzea, indo cair diretamente no leito seco do Rio Taquari.

O esgoto correndo a céu aberto

          Mas outras saídas de esgoto da cidade também foram "desligadas" do Pinicão, e correm agora diretamente para o leito do rio.

Esta caixa de passagem, que também foi "desligada" do Pinicão, recebe os esgotos do centro da cidade, 
que correm diretamente para o leito do rio.

          Que volta a correr alegremente pelo seu leito, em forma do mais puro esgoto a céu aberto.

 O Rio Taquari volta a correr em forma de puro esgoto.

          Indo desaguar no Rio Brumado, ou no que sobra dele, depois que suas águas também são utilizadas para irrigar as lavouras de manga e maracujá à montante.

Ponto em que o Taquari se encontra com o Rio Brumado.

          Mas porque o Pinicão está sendo desativado e as águas servidas correndo desse jeito para o leito seco do Taquari? A resposta pode-se ver logo ao lado: os loteamentos já estão chegando na beira da antiga lagoa de estabilização e as terras ali tornaram-se muito valorizadas. Mais do que isso, as terras retiradas das barragens ilegais estão servindo para aterrar a várzea, servindo para a "produção" de lotes urbanos.
          Então o assassinato do Rio Taquari se desdobra em muitos crimes ambientais: retirada ilegal de água, embarreiramento e escavação do leito do rio, aterro das várzeas para produção de lotes urbanos e lançamento de esgotos "in natura", tudo feito as claras, sob o nariz complacente das autoridades municipais e estaduais, que preferem fingir que não estão vendo nada para não mexer com interesses de gente que financia campanhas eleitorais.
          Mas é claro que esses "narizes complacentes" não sentem o cheiro das águas poluídas, nas sua belas mansões, bem distante da tragédia ambiental que deixam acontecer.
          E enquanto isso os belos discursos ambientais continuam a ser proferidos nas oficinas patrocinadas com dinheiro público, pago a "consultores" privados para fazer lindos projetos e encher gavetas de papeis inúteis.


POESIA DA SEMANA



Amor Feinho


Eu quero amor feinho.

Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.



Adélia Prado

RAPIDINHAS

Sisi o imperador



          A farsa eleitoral no Egito terminou. O General Sisi, ditador que derrubou o primeiro presidente eleito democraticamente do país em toda a sua história foi proclamado presidente com a votação de mais de 96% dos votos.
          Tradicionalmente só os ditadores que fraudam eleições tem percentagens tão altas, pois proíbem todos os seus adversários de concorrer, perseguem a oposição e "fabricam" um resultado eleitoral absurdo.
          Mas a mídia brasileira, subserviente aos interesses norte-americanos e israelenses por trás do golpe que derrubou a democracia recém-instalada, não chama o General Sissi de ditador, mas de presidente.
          Se ele fosse um adversário dos interesses americanos, certamente seria chamado de ditador, mas como é um "funcionário" de Washington, virou um simples "presidente" para os capachões da nossa imprensa.
          Nos primeiros dias de sua ditadura, Sissi massacrou mais de mil opositores que protestavam na rua, e agora numa farsa jurídica, quer condenar à morte o ex-presidente Mursi, acusando-o pela morte de alguns manifestantes que apoiavam o golpe militar.
         Nós já vimos este filme no Brasil, durante 21 anos. Os manifestantes que se deixaram levar pelos protestos contra o presidente legítimo, protestos muito semelhantes aos que ocorreram na Ucrânia, na Venezuela, na Tailândia e também no Brasil, devem estar se dando conta de que foram enganados.


O que eles tem contra a plástica?


          Ambos já foram jovens bonitos, e continuam sendo figuras públicas admiradas pelos brasileiros. Mas seus rostos sofreram muito com o envelhecimento. Nada que não possa ser resolvido com uma simples plástica. Será que é o machismo que os impede de remover um pouco de pele e dar uma arrumadinha no visual, permitindo que possamos contemplá-los novamente sem sentir aquele mal-estar de ver a imagem de um ídolo se tornar tão decadente?


Mudando de canal


          A Globo não consegue mesmo se renovar.
          Galvão Bueno é o locutor esportivo mais odiado do Brasil, mas eles insistem em mantê-lo. Ninguém aguenta mais ver Faustão e Fantástico, mas não há santo que faça a emissora mudar sua grade. Manoel Carlos já escreveu umas trezentas novelas com suas Helenas, mas lá vai mais uma, pra encher o saco dos telespectadores.
          Depois não sabem porque a audiência está caindo.
          As outras redes também não conseguem se libertar da mania de copiar a Globo. Aos domingos , então, é um horror de programas de auditório, a começar do pré-histórico Programa Silvio Santos. Acho que eles não perceberam que o Brasil mudou.
          Pra quem tem antena parabólica, uma ótima opção é a TV Brasil, que está com uma grade renovada e cheia de coisas boas (não confundir com o Canal Brasil da SKY) e a TV Escola, com seus excelentes documentários. Também a TV Senado tem bons programas musicais aos domingos, pra quem gosta de música erudita e a TV Câmara fez uma série muito interessante, intitulada, Os Advogados contra a Ditadura. Aquilo daria uma ótima série de ficção, baseada em fatos reais.
          Está faltando coragem para mudar de canal, já que as grandes redes privadas não conseguem sair da mesmice.
           



           

RISOS

Fio dental...



Piada contada: Zé Lezin, a saga de um matuto.

Zé Lezin