Volume Morto
As ofensas à presidente Dilma em partidas da copa, originadas das áreas "vips" dos estádios, mostram o desespero de uma elite branca e decadente, herdeira da escravidão que assolou o país por 388 anos e nos jogou num atraso secular.
Muito já se tem falado sobre o desprezo dessa "elite", na qual se enquadra grande parte de uma classe média que se beneficiou do "milagre econômico" da ditadura militar e hoje se ressente da ascensão das classes C e D aos templos de consumo, outrora reservados só para eles.
Não querem ver negros, pardos e ex-pobres nos shoppings, nos aviões ou dirigindo carros novos, "prejudicando" o trânsito das ruas, que antes eram privilégio dos brancos, herdeiros dos colonizadores europeus. Muito menos vê-los ocupando os lugares, antes destinados apenas para eles, nas universidades e nos melhores empregos públicos.
Mas as mudanças no Brasil são essas mesmo, e vem para ficar. Estamos deixando de ser um país dividido entre uma minoria privilegiada e uma imensa maioria explorada e miserável e passando a ser uma grande sociedade de consumo, com uma enorme classe média emergente que faz toda a diferença na nossa economia, nos transformando de país exportador em um grande mercado consumidor.
Antes, as oposições a essa política de democratização implantada pelos governos da coalizão liderada pelo PT, se organizavam em protestos, candidaturas de oposição ou em movimentos políticos do tipo "cansei", que agrupavam gente rica e chique. Pensavam que essas mudanças seriam temporárias e logo a velha ordem voltaria a se impor, como sempre ocorreu durante os mais de 500 anos de existência desse espaço geográfico e étnico chamado Brasil.
Mas com o prolongamento da experiência democratizadora e perspectivas de que possa inclusive se aprofundar, com as cotas para negros no serviço público e a criação de Conselhos Populares, a velha elite se agita em desespero de causa. Sabem que estão perdendo o jogo, que o poder a cada dia se afasta de suas mãos e que suas lideranças vão morrendo, desaparecendo, sem que eles sejam capazes de sensibilizar a opinião pública para a volta das velhas políticas elitistas.
Eles não tem outras propostas que não a volta a um passado nada glorioso, de miséria e submissão a potências estrangeiras, que lhes garantiam privilégios muito cômodos e o direito de dividir com os neo-colonizadores o desfrute de um país riquíssimo, enquanto mantinham o povo dominado.
Seu desespero aumenta na medida em que sua influência política mingua, como as águas do sistema Cantareira do incompetente governo tucano de São Paulo, que em 20 anos no poder estadual foi incapaz de prever a falta d'água, assim como o governo Fernando Henrique foi incapaz de impedir a falta de energia elétrica no país.
Estão usando suas últimas reservas de prestígio político, para tentar reverter a situação e impedir a derrocada total. Tornaram-se uma espécie de "volume morto" da política nacional, e apelam agora para os Black Blocks, aliados ao PCC e outras facções criminosas, para tentar um golpe de Estado que os recoloque no poder, reeditando a velha política conservadora inspirada no positivismo dos tenentes da década de 1920, que sustentou duas ditaduras sanguinárias para construir um país rico para poucos.
Quando nem mais isso funciona, só lhes resta xingar a presidente, do alto dos seus camarotes "vips" nos estádios, cujos ingressos custam por volta de R$1.000,00.
A classe média branca que estava nas arquibancadas ainda os acompanhou, desta vez. Mas não por muito tempo. Logo a cor desta classe média vai estar bem mais morena e só restará ao reservatório das forças da direita, o lodo do fundo dos reservatórios do ódio racial e de classe ao povo brasileiro.
Desse lodo nada brotará, até que a enxurrada das novas gerações termine de reconstruir o Brasil, quem sabe aperfeiçoando mais e mais esse projeto político, eliminando um sistema ainda baseado em conchavos e clientelismo e radicalizando a nossa democracia.