segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PORTO MARAVILHA

DESTAQUE

                                                                                                      As novas torres que ocuparão o velho centro
     Em viagem com a faculdade de arquitetura da Fainor, em Vitória da Conquista, pudemos conhecer as obras de requalificação urbana da região do porto do Rio de Janeiro, para as olimpíadas de 2016, conhecidas como Porto Maravilha.
     Corajoso esse prefeito Eduardo Paes.
     Uma intervenção daquelas requer muita criatividade e competência.
     A visita agendada nos levou primeiro para uma sala com um gigantesco telão "touch scream", onde recebemos explicações gerais sobre o projeto e pudemos interagir durante alguns minutos com a tela.
                                                                                    A enorme tela "touch scream"
     Impressionante a engenharia financeira do projeto, montada para viabilizar o imenso conjunto de obras sem sobrecarregar o orçamento da Prefeitura. Venda de espaço aéreo, parcerias público-privadas, criação de empresas específicas para desenvolver o projeto, tudo foi pensado para atrair investimentos, resgatar áreas que estavam abandonadas, populações que nunca figuravam nas prioridades dos orçamentos públicos, recuperar monumentos e patrimônio histórico material e imaterial, que eu como carioca, nunca tivera conhecimento.
     A imprensa só mostrou a demolição do grande elevado construído nos anos 1950, na região do porto, para desafogar o trânsito no centro da cidade. O elevado, conhecido dos cariocas com o nome de "perimetral", foi erguido no governo de Juscelino Kubistchek, quando o Rio de Janeiro ainda era capital da República.

                                                                                                                                     A demolição da perimetral
     Eu era menino e me lembro de sua construção. Meu pai que tinha um sítio em Araruama, na região dos lagos, entrava na fila das barcas (ainda não havia a ponte Rio-Niterói) para atravessar a Baía da Guanabara e ficávamos ali parados,vendo a construção daquele monstro e a demolição do antigo e belíssimo Mercado São Sebastião, todo em ferro, trazido da Inglaterra, que ficava ao lado. Dele só restou uma torre, onde funcionava um restaurante.
     Com a conclusão da perimetral a Avenida Rodrigues Alves, que ficou embaixo, entrou em decadência e foi sendo abandonada. As grandes indústrias situadas na Rodrigues Alves, como o Moinho Fluminense e a Fábrica de Sabão fecharam. Depois, com a modernização do porto os velhos armazéns também foram abandonados e tudo foi morrendo, virando um espaço perdido, ocupado por mendigos e drogados. Um lugar perigoso, por onde ninguém passava.
     A demolição da elevado deixou o sol entrar novamente e a transformação das velhas indústrias e armazéns em espaços culturais, vai trazendo a vida de volta, junto com a redescoberta de coisas que estavam ocultas há mais de um século, aterradas pela reforma do prefeito Pereira Passos em 1902, como o Cais do Valongo, onde atracavam os navios negreiros, e o Cemitério dos Pretos Novos, onde eram sepultados os africanos que não resistiam ao tormento da travessia oceânica nos "tumbeiros".

                                                                                             O antigo Cais do Valongo, onde aportavem os navios negreiros
     Além disso, lugares do Rio antigo que estavam esquecidos, como a Praça da Harmonia, onde viveu Machado de Assis, o bairro da Saúde e da Gamboa, que estavam escondidos, isolados pelos grandes sistemas viários construídos nos anos 1940 e 1950, foram reintegrados à cidade e seus moradores receberam uma série de projetos de requalificação profissional, para empregá-los nas obras e evitar que fossem expulsos pela valorização imobiliária.
     O Rio de janeiro merecia há muito tempo uma requalificação urbana desse porte, resgatando as áreas mais antigas da cidade.
     Os alunos de arquitetura e Urbanismo, que estão desenvolvendo um projeto de requalificação para o centro de Vitória da Conquista, diante da magnitude das obras, com seus túneis, demolições, restaurações, implantação de VLTs, torres de escritórios, uma aquário gigante, dois grandes museus, perderam o medo de intervir.

                                                                                         O VLT, na zona portuária.    
Eu queria que eles vissem como é possível se reinventar um centro antigo, modernizando e preservando, revitalizando áreas degradadas, perto das quais o centro de Conquista é fichinha.
     Na volta já pude sentir a diferença nas suas proposições, alimentadas de ousadia e coragem de intervir e mudar.
     O projeto do Porto Maravilha faz jus ao nome. Como professor fiquei satisfeito em ver o espanto no rosto dos alunos. Como carioca, há muito distanciado da minha cidade, fiquei orgulhoso.
    

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