segunda-feira, 27 de julho de 2015

Politicando



     O mês de agosto é ligado às piores crises políticas brasileiras, e promete para 2015.
     Após o barulhento despertar da direita brasileira, pedindo o impeachment da presidente Dilma, por não aceitar o resultado das eleições, o próprio governo mergulhou numa crise inesperada de credibilidade, ao promover um ajuste fiscal, contrariando as promessas de mais crescimento e prosperidade, feitas durante a campanha eleitoral.
     Para complicar, as presidências da Câmara e do Senado, caíram nas mãos de dois oportunistas históricos; Renan Calheiros, que participou de todos os governos pós-ditadura, e especialmente Eduardo Cunha, um aventureiro sem escrúpulos, que transformou a presidência da Câmara numa trincheira pessoal, para promoção dos interesses dos seus financiadores de campanha.
     Sobre tudo isso, a Operação Lava-Jato, abriu a Caixa de Pandora da corrupção no Brasil, provocando um salve-se-quem-puder, em que cada acusado ameaçar arrastar a República para o fundo do abismo.
      Até agora a presidente da República vem se comportando dignamente e nada foi comprovado contra ela, que parece ter herdado toda essa confusão da política de alianças do PT, que criou esse monstro chamado Base Aliada, onde se juntam políticos da pior espécie, usados como lastro para obter maioria no Congresso.
      Além dos problemas nacionais, muitos problemas se devem à crise internacional, iniciada nos Estados Unidos em 2008 e prolongada pelas políticas neoliberais europeias, que levaram a Grécia à falência.
      Surfando na crise, as campanhas contra os governos de esquerda da América latina são orquestradas de fora, e se repetem desde o Equador à Argentina, passando pela Venezuela, Brasil, Bolívia e Chile. Todas se baseiam em supostas acusações de corrupção, mas tem como objetivo impedir o aprofundamento da democracia, especialmente as leis de democratização da mídia e de taxação das grandes fortunas, que ameaçam o poder das famílias que dominam o continente.
      Tudo isso acabou com o contrato de governabilidade que Lula fez com a direita em 2001, colocando José de Alencar na vice-presidência, e o capital agora quer retornar às políticas neoliberais para recuperar a taxa de lucros, que vem caindo. Com o fim da aliança entre a social-democracia sindical do PT e o capital, os partidos fisiológicos permanecem na base aliada apenas a troco de verbas e cargos públicos, agravando mais o quadro.
      A presidente Dilma permanece firme numa postura de gestora, desinteressada das articulações políticas, com as quais não concorda ou tem aversão, atiçando mais ainda a insatisfação daqueles que estão no governo apenas para conseguirem benefícios.
     O resultado é um governo sitiado por um processo de purgação política, onde tudo vai desabando. Dilma tem a vantagem de ter um passado político de luta pela redemocratização, durante a ditadura, e depois ao lado de Leonel Brizola, um homem íntegro, onde aprendeu a resistir a grandes pressões, antes de ingressar no PT.
      Sua postura diante de todas as campanhas para tirá-la do poder, algumas de caráter sórdido e desrespeitoso, tem sido extremamente tolerante, e a história lhe fará justiça. Ela fala pouco, se expressa pouco, a não ser para dizer sobre as realizações do governo, enquanto assiste às tentativas desesperadas dos corruptos em escapar das garras da justiça, observando a queda de um por um, desde José Maria Marin, até os políticos do seu próprio partido e os presidentes das grandes empreiteiras mineiras e baianas, que há décadas dominam as licitações, sangrando os cofres públicos.
      Apesar de tudo, no campo da economia fez o dever de casa, promovendo o ajuste fiscal contra sindicatos patronais e de trabalhadores, saneou a Petrobrás e tenta lançar as bases para um crescimento sustentável no futuro. Trabalha sem tentar agradar ninguém, o que foge da tradição brasileira de conciliação, cortando fundo no que está podre e provocando reações agressivas, como se vê no caso de Eduardo Cunha. Mesmo na política externa ela não alivia e soube enfrentar o governo dos Estados Unidos, no caso da espionagem telefônica, como nenhum governo havia feito antes.
      Para os velhos países imperialistas da Europa e América do Norte, seria melhor que ela caísse, e a velha ordem se restabelecesse, mas nossa presidente, tal qual uma esfinge que desafia o tempo, segue firme no rumo traçado, enquanto tudo desaba à sua volta.
      Agosto promete novos e emocionantes capítulos dessa história, com a provável queda de Eduardo Cunha, que promete fazer muito barulho.
      Se Dilma sobreviver à tudo, setembro deve trazer ventos de renascimento para o Brasil.
  


    
      

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