segunda-feira, 6 de abril de 2015

DESTAQUE

Espiritualidade e espiritismo


“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. 
PAULO (Romanos, 12:2.).

     Há anos que venho acompanhando o espiritismo.
     Sempre achei que a grande vantagem dessa religião sobre as outras era a absoluta liberdade que dava a seus discípulos, para serem do jeito que quisessem, entendendo que todos eram espíritos em evolução, passando por suas experiências na Terra, que deveriam ser compreendidas dentro do contexto em que aconteciam.
     Nada de pecado ou moralismo, as portas sempre abertas para todos, sem censura, sem regras, apenas apontando o caminho da caridade cristã como o melhor para alcançar a iluminação e, quem sabe, passar a reencarnar em outros planetas mais evoluídos.
     Mas ultimamente tenho estranhado as palestras do centro que frequento, principalmente quando recebe visitas de outras cidades, que agora chegam cheias de "nãos".
     Um verdadeiro espírita (o que será isto?) não deve fazer isto e aquilo, não deve se rebelar contra nada, precisa se conformar e receber todos os seus infortúnios como se fossem uma predestinação do além para seu aperfeiçoamento.
     Pior, todos os crimes e tragédias que vitimam as pessoas são resultados de malfeitos em vidas anteriores e aqueles que os sofreram estão pagando por crimes ancestrais, como se não ocorressem novos crimes a vitimar inocentes diariamente.
     Esta é uma prática, a meu ver, profundamente anticristã, a de criminalizar as vítimas, como se todas elas fossem culpadas. Não vejo isto em nenhum texto de Alan Kardec, o francês que compilou as respostas dos espíritos sobre a vida depois da morte do corpo. Pelo contrário, parece-me antes de tudo, uma espécie de retorno às fogueiras da igreja católica, na sua ignorância intolerante, ou ao calvinismo, que julgava serem os pobres culpados de pecados imemoriais a serem cumpridos na Terra.
     Aliás, também tenho ouvido este tipo de "explicação" para a injustiça social, de que os pobres estão expiando "pecados" da vida anterior e que o certo é se conformar com tudo e tratar de fazer os "reajustes" necessários para evoluir.
     Será impressão minha ou o fundamentalismo que tomou conta das igrejas protestantes e de alguns setores da Igreja Católica, atingiu também Kardecismo?
     Não consigo entender essa opção pelo fatalismo conformista, numa doutrina que defende o livre-arbítrio como forma de fazer as escolhas que nos levarão à evolução. Imagine se Jesus Cristo seguisse essas regras; com certeza não teria expulso os vendilhões do templo, nem salvo a prostituta de ser apedrejada e muito menos curado as chagas do povo da Palestina.
     Pelo contrário, Cristo nos ensinou a travar o bom combate, lutando contra as injustiças, nos rebelando contra os tiranos corruptos que levam o povo à fome e à miséria, fossem eles judeus ou romanos.
     A César o que é de César, ele nos disse, o que pode ser interpretado como: eles receberão de volta tudo que estão plantando.
     Não há nada de conformista na doutrina cristã, que mais uma vez vai sendo distorcida em prol dos poderosos de plantão, usada como arma para alienar os injustiçados dos seus legítimos direitos.
     Como a vida dá voltas. A Igreja Católica que até há pouco era a meca do conservadorismo, se libertou dele com a ascensão do Papa Francisco, que vem dando seguidas lições ao mundo de como se livrar de velhos preconceitos e olhar para a frente, rumo à construção de um mundo melhor para todos.
     Enquanto isso, a astúcia dos falsos profetas se infiltra silenciosamente nas demais doutrinas, tentando convencer os homens de que esta experiência na Terra é apenas para nos oferecer o sofrimento, como forma de expiação de pecados. Muito útil esse tipo de discurso para que não quer que as coisas mudem.

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