A Luz e
a Escuridão
Do
céu ao inferno em uma semana, este é o carnaval na cidade de Rio de Contas. Da
entrega das chaves ao rei momo na quarta-feira, no primeiro dia, à quarta feira
de cinzas, na saída dos foliões, a pacata joia da Chapada passa por um processo
de mutação incrível: as marchinhas, máscaras e bonecos vão dando espaço ao
barulho dos paredões e ao palco axé, onde “atrações” de péssima qualidade se
apresentam – salvo a banda Lordão – entre o sábado e a terça-feira.
Quem
participou dos festejos carnavalescos na quarta, quinta e sexta, como eu, pôde
vibrar e se divertir muito ao som das bandas de sopro e do Pequi Elétrico que
animou o Centro Histórico com marchinhas e frevos.
Na
quarta-feira, quando da entrega das chaves ao rei da folia, uma banda de sopros
e bonecos sai pelas ruas da cidade, arrastando muita gente. Moradores saúdam o
rei momo das janelas.
Na
Quinta-feira, a cidade começa a receber seus convidados, presenteando-os com um
incrível baile à fantasia onde as pessoas se divertem e se transformam com seus
trajes: tinha Kiko do Chaves com sua bola, piratas, mulher gato, estudantes,
dançarinas, árabes e muitas outras fantasias. Claro que não faltou o
tradicional grupo de homens transvestidos com muita desenvoltura de alguns mais
atirados.
Sexta-feira o baile vermelho e preto
também foi um grande sucesso. Ainda neste dia, comecei a receber os clientes
que alugaram as casas para o carnaval.
A
cidade começava a tomar outra forma, uma espécie de invasão começava. As ruas
lotadas de carros, numa competição de quem tinha o melhor som, uma coisa
inimaginável. Como se não bastasse a falta de limite de decibéis, a qualidade
musical era de fazer os jazigos tremerem no cemitério da entrada da cidade. Rio
de Contas começava a perder sua identidade e transformar-se numa cidade sem
lei. Carros estacionados pra todo lado fechando ruas e becos, casas lotadas – a
mais animada foi a Bataklan, próxima à Prefeitura – onde seus “moradores”, umas
sessenta pessoas, subiam nos tetos dos carros, seminuas, enquanto bebiam todas as schins
da cidade.
À
Prefeitura restou sitiar a nossa Jóia da Chapada, privatizar e cobrar seu
estacionamento, ouvir os paredões abalar as estruturas dos casarões históricos,
contratar atrações de qualidade duvidosa, alugar a Praça do Landim para uma
festa “in door” e fechar um contrato de exclusividade com a Schin. Será que é este
tipo de festa que o povo da cidade deseja e merece?! Pelo que vi não: trata-se
de uma festa de interesse pessoal, onde o povo não opina em nada.
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