Bye Bye Benedito
O papa Benedictus XVI, cujo título foi traduzido para o português como Bento XVI, por puro racismo (imagine se eles iam deixar um papa com nome de santo preto?), depois de um curto pontificado, de apenas oito anos, renunciou ao trono de São Pedro, abrindo espaço para a escolha de um novo pontífice, o que deve ocorrer num conclave que se iniciará no dia 28 de fevereiro.
Controverso, esse papa. Depois de ter conseguido esmagar o clero progressista do Vaticano, nos seus anos à frente da Congregação para Doutrina da Fé, o mesmo órgão antigamente encarregado da inquisição, no longo papado de João Paulo II, um papa de direita, acusado de ser agente da CIA e de ter tramado a morte do progressista João Paulo I, que ficou apenas um mês no cargo e teve morte misteriosa, o cardeal Ratzinger, depois Bento XVI, foi eleito por um conclave extremamente dividido entre os conservadores europeus e norte-americanos e o clero progressista da América latina, África e Ásia, que pediam uma renovação da igreja.
Sua nacionalidade alemã, um país de maioria protestante, e seu passado de soldado de Hitler, pesavam muito contra ele, mas mesmo assim sua escolha foi a solução encontrada para impor ao terceiro mundo um papa europeu, conservador, que teria que lidar com questões no mínimo constrangedoras para a Igreja, como os escândalos de pedofilia que se sucediam, destampando a velha e conhecida hipocrisia da Igreja Católica, que finge que os padres não fazem sexo, e os deixam a sós com suas necessidades físicas, colocando à sua mercê milhões de crianças em instituições religiosas pelo mundo.
Ratzinger, ou Bento XVI, ou Benedictus XVI, no entanto, começou uma limpeza severa nas instituições católicas do mundo, combatendo a pedofilia com tolerância zero, enquanto tentava sanear também as nebulosas finanças do Vaticano, com seus vínculos com bancos como o Santander, comandado pela chamada Santa Máfia da Opus Dei (sobre isto veja artigo Banco Santander, Opus Dei e Vaticano: relações promíscuas e perigosas no link abaixo
http://www.pranselmomelo.com.br/2012/01/banco-santander-opus-dei-e-vaticano.html) e a indústria armamentista, que lucra com a guerra, no sentido oposto dos apelos pela paz do sumo pontífice, afirmação sempre desmentida pela Igreja (veja artigo Pobre rico Vaticano, no link abaixo http://www.dw.de/pobre-rico-vaticano/a-1557411).
Essa imensa rede de interesses parece ter sido mais forte que o impulso de reorganização conservadora que Ratzinger tentou impor ao Vaticano, provocando a sua renúncia.
Com a perda do impulso neoliberal, e a crise das economias americana e européia, além da divisão da facção conservadora do vaticano entre adeptos da faxina de Ratzinger e os beneficiários da intrincada rede de interesses econômicos que paira sobre as práticas financeiras da Igreja Católica, pode ser que haja espaço para a ascensão de um novo poder renovador dentro do clero, capaz de reaproximar a velha instituição da palavra de Cristo.
Os cardeais se encontram numa encruzilhada, em que precisam escolher entre se reaproximar do antigo terceiro mundo (agora chamado de emergente), tentando reconquistar corações e mentes, principalmente entre as populações mais pobres do planeta, ou continuar perdendo adeptos para as igrejas protestantes, sejam as tradicionais ou as pentescostais que não param de crescer, sem falar na grande ofensiva do islã, do espiritismo (particularmente no Brasil) e das religiões de matriz africana.
Talvez seja a hora para a Igreja Católica dar uma grande virada e se reformar, acabando com a rídícula instituição do celibato, permitindo que mulheres se ordenem sacerdotes, apoiando os gays e a contracepção e optando realmente por ser uma grande instituição espiritual, ao invés de um poder temporal.
Esta guinada corajosa, que seria comparável ao concílio Vaticano II liderado pelo saudoso João XXIII, poderia evitar a sua derrocada moral, impedindo ainda a perda de importância da Igreja Católica em um mundo que muda rapidamente,
Quem viver, verá.
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