segunda-feira, 1 de abril de 2013

DESTAQUE

Inconfidência Mineira



     Acabo de voltar de uma viagem ao Rio, passando por Minas, onde pude visitar Ouro Preto e o Museu da Inconfidência. Lá adquiri alguns exemplares de livros sobre aquele episódio tão importante da nossa história, dentre os quais este, de Augusto de Lima Junior, editado pela Itatiaia de Belo Horizonte e cuja primeira edição data de 1936.
     O museu, situada na antiga Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto, é muito bonito, bem organizado e não dá pra deixar de dizer, emocionante.


O Museu da Inconfidência na antiga Casa de Câmara e Cadeia de Ouro preto
    
     Entrar na sala onde estão as cinzas dos inconfidentes, falecidos a maioria no exílio, com suas lápides e a bandeira de Minas é realmente uma experiência de abalar qualquer brasileiro que tenha amor a esta grande pátria.
     Mais do que isto, é uma experiência didaticamente organizada, para que possamos nos dar conta dos fatos que ocorreram naquele ano de 1789, naquela que era a província mais rica do antigo império português.
     A única ressalva ao museu está em relação à questão da escravidão, tratada pelos historiadores que organizaram a mostra de uma forma no mínimo inquietante. Ver instrumentos de tortura dos escravos expostos, com legendas dizendo que eles eram usados "pedagogicamente" para manter a disciplina dos africanos não deixa de ser revoltante.
     Também as explicações sobre a maneira como os negros escondiam diamantes nas "carapinhas", se referindo aos seus cabelos encaracolados, choca pelo conteúdo preconceituoso contra esta característica física da maioria da nossa população.
     Depois, ao ler o livro de Augusto de Lima, pude observar ainda algumas passagens racistas, típicas do ideário da época em que foi escrito, como a citação em que descreve fisicamente Tiradentes...De estatura acima do normal,de raça branca e pura, sem mistura de "mouro, judeu, mulato ou outra infecta nação", mas esta passagem não é do autor do livro, e sim transcrita da sua genealogia, no processo de habilitação de seus irmãos para ordenação sacerdotal (Tiradentes teve dois irmãos padres).
     De qualquer forma, a citação passa batida, sem maiores comentários do autor.
     Também a citação de um episódio em que Tiradentes ao se ver perseguido no Rio de Janeiro, e sem recursos, é obrigado a vender um escravo de sua propriedade, nos revela o quão natural era para os inconfidentes a escravidão, embora muitos deles tenham proposto a abolição, nas primeira leis que preparavam para a nova república que sonhavam fundar, enquanto outros argumentavam que isto iria arruinar a indústria extrativista de ouro em Minas Gerais.
     Mas a leitura da História da Inconfidência é importante, por nos guiar passso a passo nos acontecimentos de 1789. A incompetência do governo de D. Maria I em administrar a província que sustentava o fausto da corte portuguesa, e que pagou a conta pela reconstrução de Lisboa depois do terremoto que a destruiu, a corrupção dos seus governantes, os desmandos, violências e injustiças promovidos por eles, assim como o surgimento de uma burguesia nacional que via no exemplo da independência dos Estados Unidos um caminho para a fundação de uma nação soberana no Brasil.
     Os principais personagens estão lá, descritos, com seus nomes, sua ascendência e o papel que desempenharam na conspiração, especialmente do alferes (posto correspondente hoje a segundo-tenente) Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que também foi tropeiro, médico, cirurgião dentista e protético, além de outras qualidades que possuía, como os conhecimentos em mineralogia e a capacidade de desenhar plantas de terrenos para levantamentos do exército.  
    
    
     Também os fatos estão descritos com detalhes.
     Espanta o excesso de confiança e o descuido dos inconfidentes, na preparação da revolução e também a reação desproporcional da coroa portuguesa que podia ter simplesmente abafado o caso, mas preferiu transformar os inconfidentes, que caíram sem disparar um só tiro, em mártires do povo brasileiro, assustados que estavam pela revolução francesa ocorrida no mesmo ano de 1789.
     O medo da aristocracia portuguesa e a violência empregada na repressão ao movimento, que era amplamente apoiado pela população, funcionou como combustível para os ideais de libertação, que 33 anos mais tarde resultariam na proclamação da independência pelo próprio príncipe português.
     É uma pena que só estudemos a história do Brasil no ensino fundamental, quando ainda não temos condições de compreender a importância de movimentos como este, para a fundação da nossa nacionalidade. Os fundamentos sobre os quais se construiu o movimento mineiro podiam servir muito bem para muitas reivindicações que temos hoje, em relação aos governos que nos infestam com corrupção e desmandos, dentre os quais está expresso o direito dos povos a se rebelarem para depor do poder governantes corruptos e tirânicos, mesmo que seja pela violência, para recuperarem a sua soberania.
     Talvez por isto mesmo não se ensinem esses princípios nas nossas escolas, a não ser a criancinhas pequenas que ainda não tem condições de entendê-los, pois nossas classes dominantes aprenderam muito bem a lição com os portugueses sobre como oprimir e explorar o povo e morrem de medo de que um dia uma educação de qualidade liberte os brasileiros para enxergarem sua real situação e tomarem a si próprios a tarefa de construir esta nação.

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