terça-feira, 8 de outubro de 2013

POLITICANDO

Limites



     O novo cenário que vai se construindo para as eleições de 2014, com a filiação de Marina Silva ao PSB, ainda está longe de se consolidar.
     Esse último movimento, embora importante pela quantidade de votos que Marina teve nas últimas eleições e pelo potencial da aliança dela com Eduardo Campos, ainda exclui dois atores importantes, um em decadência acentuada, representado pela direita como um todo,  principalmente pelo PSDB e o DEM, com suas propostas elitistas e neoliberais que já não apresentam tanto perigo para a centro-esquerda atualmente no poder e, outro, a nova esquerda representada pelo PSOL, que vem sendo o partido mais afinado com as aspirações populares que desabrocharam nas jornadas de junho, mas que ainda não acumulou forças para ameaçar a fortaleza do PT.
     Olhando sob este ângulo, a nova coligação entre Marina e o PSB, favorece tanto à direita mais decadente, quanto a nova esquerda, justamente por se situar na mesma faixa de eleitorado de Dilma e do PT (dividindo seus votos), a classe média de centro esquerda composta por eleitores mais conservadores, que querem algumas mudanças mas não tantas que possam ameaçar o edifício de conquistas construídas nos últimos anos.
     A tal Rede Sustentabilidade de Marina, que mais parece nome de cadeia de supermercados, além de não conseguir nem as filiações necessárias à sua fundação, o que revela uma certa soberba por parte de seus militantes, que se acham predestinados a governar o Brasil como se estivessem acima do bem e do mal, já vem sofrendo o desgaste das posições conservadoras evangélicas que Marina passou a associar ao seu passado heróico de seringueira e de mulher-negra-e-pobre, que já não dá tanto Ibope assim.
     Quanto à Eduardo Campos, é claramente uma liderança local, lhe faltando a projeção nacional necessária para concorrer à presidência da República, com seus índices de intenção de voto em torno de 5%.
     Quanto ao PT, também vai sofrendo o desgaste de tantos anos no poder e por não aceitar as condenações do mensalão. É inconcebível que um partido com tantas responsabilidades continue mantendo em seus quadros, pessoas condenadas na instância mais alta da justiça brasileira e, ao invés de expulsá-las, passe a fazer uma campanha difamatória contra os juízes que as condenaram, como vem ocorrendo nas redes sociais.
     Continuam homenageando José Dirceu e sua quadrilha, sem levar em conta a enorme rejeição que isso provoca no eleitorado e que motivou os protestos contra a corrupção, dentre outras coisas. Do mesmo jeito que Marina com seu partido-ONG, os petistas também abusam da soberba por se acharem acima do bem e do mal, e com isso vão cavando um enorme fosso que os separa das novas gerações.
     Quanto à Dilma Roussef, continua uma brilhante economista e gestora mas com uma inequívoca tendência à tecnocracia. Conhece os números de cor mas não tem a sensibilidade política para perceber os anseios populares e responder a eles, com políticas que saiam do âmbito estrito da economia e da eficiência administrativa, a não ser quando já estão explodindo na sua cara, como no caso dos problemas da saúde pública.
     O Brasil precisa de reformas, reivindicadas desde os tempos de João Goulart há 50 anos atrás. A reforma agrária, que permanece estagnada, e também reformas nos serviços públicos, especialmente na educação e na saúde, assim como a reforma urbana, que tenham coragem de contrariar interesses poderosos, mesmo que isso signifique acentuar conflitos de classe que podem sair do controle.
     Mas a opção pela classe média e pela governabilidade impede o PT de avançar nessa direção, e as necessidades mais urgentes da população vão sendo empurradas com a barriga, ocultas pela ascensão da classe C ao mercado de consumo, que é positiva mas, na medida em que dá cidadania a esses amplos setores também lhes dá voz para reclamar seus direitos, ampliando o coro pelas mudanças necessárias.
     Até agora o partido que tem sabido se colocar ao lado das reivindicações da população, que tem sabido auscultar o futuro é o PSOL que, com um discurso coerente e sem radicalizações que o liguem a um passado superado, tende a crescer muito nas próximas eleições, talvez ainda não a ponto de disputar o poder central mas certamente já construindo uma ampla base para se habilitar a substituir o PT, cujo projeto político começa a se aproximar dos seus limites.

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