Quando Nietzsche Chorou
Este livro estava na minha estante há mais de dois anos, mas eu não me animava.
Filosofia não é um assunto de minha preferência, mas semana passada achando-o, resolvi dar uma olhada. Trágico erro: ao abrir a primeira página não há como parar.
Fui deixando tudo pra trás, tarefas, obrigações, coisas do dia-a-dia, envolvido por esta leitura fabulosa, onde duas grandes inteligências do final do século XIX se confrontam de forma tenaz, num verdadeiro jogo de gato e rato, um querendo enganar e manipular o outro, no intuito de se ajudarem mutuamente, sem que o outro percebesse que estava sendo ajudado.
Através dessa fantasia, criada pelo psiquiatra americano Irvin Yalom, (Editora Agir, Rio de Janeiro, 35a. Edição-2009), vamos nos inteirando do ambiente na Viena de 1882, das idéias que deram lugar ao nascimento da psicoterapia e do crescente movimento antisemita, que desembocaria no nazismo no início do século XX.
Numa ficção histórica, Yalom promove um encontro, que nunca houve, entre o médico judeu Josef Breuer, personagem real considerado um dos pais da psicanálise e mentor do jovem Sigmund Freud e o filósofo Friederich Nietzsche, filho de um pastor luterano, que lutava para se libertar do pensamento reinante na época, cheio de convenções burguesas, de racionalismo cartesiano e de preconceitos religiosos que impediam o avanço da sociedade ocidental.
Nietzsche, que abominava qualquer tipo de boas intenções por parte de representantes da burguesia européia, sofria de terríveis enxaquecas, que o impediam de progredir nos seus trabalhos, mas ser recusava a ser ajudado.
Breuer, já adotando uma postura que prenunciava o advento da psicanálise, resolve ajudá-lo sem que ele saiba, se colocando por sua vez sob seus cuidados para que resolvesse seus problemas existenciais.
O que era apenas um truque para fazer Nietzsche aceitar o tratamento acaba se tornando real e começa realmente a mexer com a cabeça do médico, criando uma confiança cada vez maior entre os dois, que vão superando suas barreiras internas ao mesmo tempo, até que numa catarse a dois chegam a um final surpreendente.
Uma leitura deliciosa e que mostra ao leitor desavisado, como eu, de que matéria é feita a psicanálise, fazendo-nos entender o seu surgimento, à partir de práticas médicas tradicionais e da curiosidade científica de homens como Breuer e Freud, que no século XIX já intuiam que havia mais do que pensamentos, ocultos sob a consciência humana.
Não deixem de ler.
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