segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

POESIA DA SEMANA

O homem que fuma
 

Na janela
Há um homem que fuma
Grossa lentes
Cabelos desarrumados
Debruça-se sobre o parapeito
E fuma
Sua casa térrea
Resiste ao recuo obrigatório
Dos urbanistas
É a última
No alinhamento antigo
E ficou assim
No meio da rua
Não tem calçada
O asfalto encosta na porta
E os carros e ônibus
Passam raspando
Na janela
E no homem debruçado
Fumando
Ele parece que não liga
Ao fino que os ônibus
Tiram do seu cigarro
Indiferente
Fuma na janela
Como se a rua não existisse
Como nos velhos tempos
Nunca soube o seu nome
Nem sua idade
Terá uns 60?
Mas gosto dele
Ah, como gosto dele!
E do seu cigarro indiferente
Desafiador
Me faz acreditar
Na capacidade do homem comum
De resistir
A prefeitos, planejadores, empresários
Apenas pela simples presença
pela permanência
Sem camisa
Ou de pijamas
É uma economia doméstica
No meio dos fluxos econômicos globalizados
É uma mensagem de bom senso
No meio de tantas mentiras cruéis.
Ricardo Stumpf Alves de Souza
Ilhéus, 28/08/1997

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