terça-feira, 11 de junho de 2013

DESTAQUE

Star trek
Além da escuridão
     Fui assistir ao novo filme da saga Jornada nas Estrelas (Star Trek, em inglês), que acabou de estrear nos cinemas brasileiros.
     Sou fã da saga, desde menino, há mais de 40 anos, desde que era uma série na TV preto e branco, portanto posso falar de cadeira sobre o que ela tem de melhor, e com certeza não são as orelhas pontudas do senhor Spok, o mestiço de terráqueo e venusiano, cuja lógica não deixa seus sentimentos aflorarem.
     O melhor de Star Trek sempre foi o argumento de Gene Roddenberry, seu criador, por ser uma antevisão do futuro baseado na integração dos povos, em plena guerra fria, quando ainda não se falava em União Européia ou Mercosul.
     A série original tinha no comando da nave, um capitão americano, o Capitão Kirk, e vários oficiais de nacionalidades diferentes, inclusive um russo, Sr Chekov, e um japonês, Sr. Sulo, além da primeira negra a participar como protagonista em séries americanas, como a oficial de comunicações, Tenente Uhura.
A primeira tenente Uhura, vivida pela atriz Nichele Nichols
     Os temas dos episódios acompanhavam o alto nível da ficção científica da época, num tempo em que os efeitos especiais ainda eram primários e a grande atração era a inteligência.
     Me lembro de alguns episódios emblemáticos, como aquele em que a tripulação da nave Enterprise, em sua missão exploratória em busca de novos mundo, descobre uma forma de vida totalmente destituída de água. Eram seres feitos de metal e tinham uma vida vegetativa, como se fossem rochas. Depois de conseguir entrar em contato com essa inteligência alienígena, o capitão tem que explicar a eles como era possível a nossa forma de vida, baseada na água. Os alienígenas passam a chamar os humanos de bolsas d'água, enquanto cada civilização vai desvendando os segredos da outra, completamente diferente.
O primeiro capitão Kirk, vivido pelo ator William Shatner
     Em outro episódio, a nave entra em contato com seres que se movimentavam a uma velocidade espantosa para nossos padrões, e por isso eram invisíveis para nós. Depois de entender o fenômeno e conseguir se comunicar com eles, a câmera passa a exibir os seres humanos como eram vistos por esta forma de vida, se movimentando tão lentamente que pareciam parados.
     Eram idéias novas, baseadas na ciência e numa livre especulação sobre o que nos esperaria no espaço exterior.
     De lá para cá a ficção científica perdeu muito, principalmente depois da série Guerra nas Estrelas, que amesquinhou todo o tema transformando o que antes era indagação científica em aventuras de cowboys americanos (Harrison Ford).
     Mesmo assim, a série na TV continuou inovando e teve outras tripulações diferentes, posteriores a do Capitão Kirk e sua tripulação multinacional, especialmente Nova Geração, (Next Generation)comandada pelo capitão francês Jean-Luc Piccard e seu imediato o Sr Data, um humanóide.
O Capitão Jean-Luc Picard, interpretado pelo ator inglês Patrick Stewart
     Havia também alienígenas na tripulação, especialmente um Klingon, que em episódios anteriores era um povo inimigo da Federação e depois ingressou nela, juntando seu império ao dos terráqueos.
     Enfim, o forte da série era a idéia de que no futuro todos os povos se uniriam e formariam uma federação, não apenas na Terra, mas também com outros planetas e povos, num universo de paz, voltado para a ciência e o conhecimento.
O jovem Capitão Kirk, vivido por Chris Pine 
     Mas os dois últimos filmes da saga, resolveram retornar ao início, fazendo uma espécie de prévia dos primeiros episódios, mostrando a primeira tripulação jovem ainda, e reforçando a liderança do americano Kirk, como se o mundo do futuro fosse uma continuação dos Estados Unidos de hoje.
     Nesse último, estranhamente denominado Além da Escuridão (não há nada que justifique o título), a batalha que se trava é entre o capitão Kirk e um comandante da frota estelar interessado em deflagar uma guerra contra o antigo Império Klingon. Aí caímos nos velhos chavões de Guerra nas Estrelas, com cenas de combate cujos efeitos especiais são maximizados pelo sistema 3D. Ou seja, sai a ficção científica e entra em cena o velho aventureirismo dos cowboys americanos, amplamente dominantes, numa regressão ao que há de pior, no que resta da ficção científica.
     O que salva o filme é que a idéia do direito e da paz triunfam sobre a guerra, mas só depois de satisfazer amplamente os amantes de filmes de pancadaria com muitas cenas de lutas e batalhas espaciais.
     O personagem principal, o jovem Capitão Kirk, é altamente machista e brigão, numa exibição de testosterona ridícula, que já vinha dando a tônica desde o filme anterior. O resto são as velhas sentimentalidades entre ele e Spok, que agora namora a Tenente Uhura, para afastar qualquer idéia de que Kirk e Spok possam ser gays, dada as profundas declarações de amizade, quase amor, entre eles.
     Uma pena. Se Gene Roddenbery estivesse vivo, certamente não aprovaria.
A nave Enterprise que povoou a imaginação de tantas gerações


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