segunda-feira, 17 de junho de 2013

POLITICANDO

Viva o povo brasileiro!
Manifestação em São Paulo
     Os protestos contra o aumento das tarifas começaram em Porto Alegre, depois se expandiram para Goiânia e São Paulo, tendo sido barbaramente reprimidos pelas polícias, principalmente de São Paulo e Goiânia, estados governados pela direita (PSDB).
     Mas que resposta a prefeitura de São Paulo (PT) deu aos manifestantes? Que não voltaria atrás no reajuste, porque nos últimos três anos eles ficaram abaixo da inflação, o que é mentira, pois o último reajuste foi em janeiro de 2011, e ainda não se passaram 3 anos, mas dois anos e meio.
     Só que no acumulado dos últimos dezenove anos (desde 1994),  o reajuste foi de 742%, para uma inflação de 332%. Se os reajustes acompanhassem o IPCA, a tarifa deveria passar hoje para R$2,16 e não R$3,20. Caso o transporte fosse de qualidade, até se poderia argumentar que o aumento foi necessário para realizar investimentos na sua melhoria, mas continua péssimo. Trens e ônibus lotados, ruins e caros.
     Me lembro de Fernando Haddad, quando eu estava no MEC e ele era o Secretário do Ministério, e fizemos uma reunião reclamando das condições de trabalho. Éramos um monte de profissionais, recém contratados num concurso público, sem as mínimas condições de trabalho, amontoados em salas minúsculas, sendo tratados como gado e a resposta que ele nos deu foi semelhante: que não admitiria reclamações e quem não estivesse satisfeito pedisse demissão.
     Aquela cara de bonzinho, de bonitinho, desapareceu rapidamente quando seu poder foi contestado.
     Mas o que parece é que o povo se cansou do discurso do PT também, que se aproximou muito do PSDB nos últimos anos, com suas privatizações (concessões) de serviços públicos, entregando os serviços essenciais à iniciativa privada.
     Rodovias, metrôs, aeroportos e agora também os portos, tudo vai sendo concedido aos interesses particulares (inclusive os estádios) em nome da aceleração do crescimento, enquanto o interesse público vai ficando para trás.
     O povo vê com indignação bilhões sendo aplicados na copa do mundo enquanto os serviços essenciais: saúde, transporte e educação, sempre lembrados na hora das campanhas eleitorais, são negligenciados. E mais do que isso, vê o país se curvar a exigências milionárias da FIFA, que afrontam nossas leis e nossa democracia, em nome dos negócios que envolvem o futebol.
     Mas a realização da Copa não é a causa das deficiências no transporte público, que estão aí há décadas. Suas verdadeiras causas estão no sistema eleitoral que permite ao "lobby" das empresas de ônibus financiar campanhas eleitorais em todo o país, impedindo a construção de metrôs e corredores de ônibus, que melhorem a situação. Mas paradoxalmente, este será um dos mais importantes legados da Copa para nossas cidades.
     Também aos grandes empresários da educação, não interessa uma educação pública de qualidade (melhor deixá-la nas mãos pobres e desinteressadas dos municípios), asim como não interessa aos planos de saúde e hospitais particulares, uma rede pública de qualidade, que atenda gratuitamente a população. O tão alardeado Sistema Único de Saúde, com seus milhares de Conselhos de Saúde espalhados pelo país, que só servem para legitimar essa política, virou uma piada de mau gosto.
     É isso que alimenta tanta revolta. É que por trás do discurso desenvolvimentista do PT e sua gigantesca base aliada, se formou uma máfia de financiamento de campanhas, amplamente comprovada no processo do mensalão, que compromete a qualidade de vida do cidadão em troca de apoio aos partidos que estão no poder. E isto inclui também os poucos partidos que ainda estão na oposição, PSDB, DEM e PPS, que são, na verdade os inventores desse esquema, de "É dando que se recebe", como dizia um político de triste memória, para justificar as transações escusas no Congresso Nacional.
     Parece que essa situação está chegando ao seu limite, com as pessoas exigindo transparência e uma democracia de verdade, onde a promiscuidade entre empresas e políticos não possa mais prejudicar a vida do cidadão, que quer retorno de seus impostos e compromisso de seus representantes.
     Os partidos que estão fora desse esquemão são muito poucos. Talvez o PSOL seja o mais sério, enquanto PSTU e outras pequenas legendas de base marxista, não tem propostas e só sabem fazer barulho. A tal Rede de Marina Silva se perdeu no conservadorismo da sua igreja evangélica, destruindo todo o capital que ela havia construído ao longo de uma vida de lutas.
     Mas as manifestações da semana passada, o que inclui a vaia em Dilma na abertura da Copa, tem matrizes diferentes. As principais são contra o abuso do poder econômico dos empresários (do transporte, principalmente) em conluio com os governos. Um movimento legítimo, que busca direitos e uma democracia efetiva
     Já os protestos contra a realização da Copa das Confederações, que já vinham se acirrando desde o triste episódio do museu do índio, no Rio de Janeiro me parecem que foram, no início, inspirados pela direita, que acha que o Brasil não deve ser um país importante (fazer um grande evento vai projetar uma imagem de poder do Brasil), e que deve continuar sendo um país de segundo plano, subserviente aos poderosos do mundo, e os manifestantes devem ficar atentos para não se deixar manipular pela direita oportunista e sua velha mania de esculhambar o Brasil, o povo brasileiro e tudo que a gente faz, pra justificar que é melhor entregar aos estrangeiros.
      Lembram-se da manifestação da burguesia paulista, intitulada "cansei"?
     De qualquer forma parece que caminhamos para uma renovação da política nacional, em função do desprezo com que a base aliada segue fazendo seus acordos espúrios sem ouvir a voz do povo brasileiro. É o caso das manifestações contra o presidente da Câmara dos Deputados, do presidente da CBF, do presidente da Comissão de Direitos Humanos, solenemente ignorados pelos políticos, que de forma arrogante e na cara de todos nós, seguem na direção oposta do que a sociedade deseja.
A sombra do povo no Congresso Nacional ameaça as maracutaias dos políticos

     Não creio que os partidos que estejam aí representem mais ninguém, tanto é que as bandeiras partidárias estão sendo expulsas das manifestações que se multiplicam pelo país. A verdade é que estamos cheios dessa arrogância, desses conchavos, dessa corrupção que permeia todo processo político. É realmente duro chegar num hospital e não ser atendido, enquanto vemos Joseph Blatter e seus asseclas, fazendo exigências caríssimas para a Copa.
     Não temos mesmo que tolerar isso. O povo brasileiro sabe ser paciente, mas sabe também se levantar através de campanhas memoráveis, quando chega a hora.
     Como dizia o cartaz de um manifestante paulista: verás que o filho teu não foge à luta!

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