História de Rio de Contas
O texto abaixo se baseia no site do acervo da UFBA, elaborado com base em documentos fornecidos pelo Arquivo Público Municipal e em outras publicações, como a "Coleção de Leis do Império do Brasil" (1849), a "Corografia Brasílica, ou Relação Histórico Geográfica do reino do Brasil - Tomo II" (1818) e livros de relatos de viajantes como "Travels in Brazil in the year 1817-1820" (Spix; Martius, 1824).
Foram feitos recortes, modificações e acréscimos pelo autor deste blog.
Para conferir o original, acesse o link; http://www.acervoriodecontas.ufba.br/site/uploads/texto/HISTORIA__RIO_DE_CONTAS.pdf
Rio de Contas surgiu como centro de mineração de ouro e era parada obrigatória no Caminho Real(1). Sua configuração urbana se deu originalmente através da provisão de 02 de outubro de 1745, que recomendava tanto a localização do sítio como a implantação das edificações, o que faz de Rio de Contas uma das raras "cidades novas" coloniais (Azevedo, 1980).
Vista panorâmica de Rio de Contas
O município está situado no Estado da Bahia, no centro sul baiano, ao sul da região da Chapada Diamantina e distante 736 Km de Salvador (2), a capital do estado. Situa-se na vertente oriental da Serra das Almas e compreende áreas baixas, recobertas de caatinga (3) e chapadas elevadas com vegetação do tipo gerais (4), onde o clima é ameno. Numa destas chapadas, à margem esquerda do Rio Brumado, localiza-se a sede municipal (Azevedo, 1980).
O município mede 1.052,30Km2 e compreende três distritos: Rio de Contas (sede), Arapiranga e Marcolino Moura, com uma população de 13.007 habitantes (IBGE 2010).
Rio de Contas é a cidade mais antiga da região do centro sul baiano que, segundo Neves (2007), começou a ser ocupada em meados do século XVII por escravos foragidos de embarcações naufragadas no litoral da Bahia que subiam o Rio das Contas e se instalavam à margem esquerda do Rio das Contas Pequeno, atual Rio Brumado, ao sul da Chapada Diamantina.
Na última década do século XVII, surgiu nesta região um pequeno povoado situado no planalto da Serra das Almas, à margem do Rio das Contas Pequeno, chamado de Crioulos. Este povoado servia de ponto de pouso para os viajantes vindos de Goiás e norte de Minas Gerais em direção à Salvador e na rota que ligava o vale do São Francisco ao Caminho da Costa (Neves, 2007).
Segundo Neves (2007), uma ampla rede viária já cortava o interior da Bahia em meados do século XVIII. Os caminhos de Ouro Fino ou do Ouro da Boa Pinta, a Estrada Real, a Estrada das Boiadas (5)(em grande parte se confundido com a estrada real) e o Caminho da Costa, eram os mais importantes.
Em 1710, bandeirantes paulistas descobriram veiôes e cascalhos auríferos na região. Próximo às lavras do bandeirante paulista Sebastião Raposo surgiu a povoação de Mato Grosso, onde os jesuítas construíram a igreja de Santo Antonio (Revista Trimestral, 1863).
Em 1715 os mesmos bandeirantes fundaram uma povoação rio abaixo onde foi construída a capela de Nossa Senhora do Livramento.(Revista trimestral. 1863).
Por alvará de 11 de abril de 1718, Mato grosso foi transformada na sede da primeira freguesia do "sertão de cima". (Coleção das leis, 1849).
Em 1720 o mestre dos Engenheiros de Campo Miguel Pereira da Costa, realizou uma viagem exploratória, partindo de Cachoeira, no recôncavo, com destino a Rio de Contas. Em relatório enviado ao vice-rei Vasco Fernando Cesar, ele descreve as distâncias entre os povoados e aglomerações, assim como todas as peculiaridades do percurso de 105 léguas que durou 21 dias.
Caminho percorrido por Miguel Pereira da Costa em 1720
(...) do ribeirão se vai ao Mato grosso, ultima marcha d'esta jornada por ser alli a rancharia maior dos mineiros d'aquelles distritos, onde todos têm na sua casa de palha, e aqui aportam todos os vivandeiros com seus combois (...). É este sítio do Mato Grosso a primeira parte onde se ajuntou gente n'aquelles districtos, no princípio de seus descobrimentos, e assim ficou sendo alli o maior consurso, ou uma como povoação d'aquelles homnes em que se estabeleceram; e d'este sítio destacavam alguns a fazer os seus descobrimentos e experiências, que, tendo-lhes conta, decampavam d'elle para a tal paragem descoberta, e nela formavam sua nova rancharia; ficando, porém n'aquelle acantonamento do Mato Grosso a a maior parte d'elles, que ainda se conserva e é uma feira contínua dos víveres que cada comboi leva (Revista trimestral, 1863).
Em 1724, o vice-rei, Conde de Sabugosa, manda o sertanista baiano Pedro Barbosa Leal, fundar vilas em Jacobina e Rio de Contas, onde determinou que se estabelecessem casas de fundição, para evitar o desvio do ouro, sem o pagamento do quinto, imposto devido à coroa portuguesa.
É então fundada a Villa de Nossa Senhora do Livramento e Minas do Rio de Contas , atual Livramento. Devido às inundações constantes na área, em 1745 ela é transferida para o local do antigo Pouso dos Crioulos, e passa a se chamar Villa Nova de Nossa Senhora do Livramento e Minas do Rio de Contas, enquanto a primeira fica conhecida como Vila Velha.
A cidade foi tombada pelo IPHAN (Intituto do Patrimônio Histórico e Artísco Nacional), em 8 de abril de 1980.
Perímetro tombado da cidade de Rio de Contas
Em 1983 foi inaugurada a barragem Engenheiro Luis Vieira, situada à montante da cidade, represando o Rio Brumado, que hoje sustenta o perímetro irrigado de Livramento, região produtora e exportadora de frutas, em especial manga e maracujá, dinamizando a economia da região.
Casa típica com residência e comércio
A tipologia arquitetônica do centro histórico é composta, na sua maioria, por edificações de uso residencial, em pavimento térreo, recoberta de telhas de barro em duas águas, construída com paredes autoportantes em alvenaria de adobe, a maioria apenas residencial, embora algumas incluam um comércio lateral.
Várias edificações estão inscritos no livro de tombo, dentre as quais as das fotos abaixo.
Edificações tombadas, na Rua Barão de Macaúbas
Casas tombadas na rua Silva Jardim
Edificações tombadas na Rua 15 de Novembro
Edificações tombadas: a do meio é a sede da Prefeitura Municipal.
Antiga casa de Câmara e Cadeia dos portugueses, atual Fórum Municipal
Antigo mercado público, atual biblioteca pública municipal
Teatro São Carlos, de 1892
Igreja do Santísimo Sacramento, construída no final do século XVIII
Igreja de Santana, de 1779
Para visitar Rio de Contas, vindo de Brasília ou do sul (via Vitória da Conquista), segue-se até Brumado, de onde parte a estrada para Livramento (60 Km), que depois sobe a Serra das Almas, por mais 9 Km, até a sede do município.
Para quem vem de Salvador ou do nordeste, pode-se ir até Vitória da Conquista e depois seguir para Brumado, ou tomar a estrada de Nova Itarana, via Maracás (pela Br-116, entrando à direita logo após Milagres), que vai até Brumado. Existem também caminhos via Abaíra e Mucugê (via Parque Nacional da Chapada Diamantina), mas ambos tem trechos ainda sem pavimentação, com cerca de 40Km.
(1) A única Estrada Real da região, mandada construir pela coroa portuguesa, era a que ligava a Vila Velha de Livramento a Jacobina, onde se localizavam as duas casas de fundição. Os outros caminhos da época da mineração tinham outros nomes, mas todos os caminhos antigos são hoje chamados pela população de estradas reais. Um trecho da verdadeira Estrada Real ligando a cidade de Rio de Contas a Livramento encontra-se preservado, podendo ser percorrido à pé, por visitantes.
(2) A distância de Salvador é consideravelmente menor através de estradas interiores, que ainda tem trechos de terra, ou pela estrada de Maracás (totalmente asfaltada), que liga Milagres, na BR-116 a Brumado, sem passar por Vitória da Conquista.
(3) Vegetação típica do semi-árido brasileiro.
(4) Vegetação de cerrado ou savana, típica dos planaltos brasileiros.
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