quarta-feira, 27 de março de 2013

POESIA DA SEMANA

 Praça Tiradentes, Ouro Preto - MG

     Caros leitores, a poesia desta semana tem um sabor muito especial para mim. Estivemos em Ouro Preto, Minas Gerais, onde visitamos o Museu da Inconfidência e nos deleitamos com o acervo arquitetônico da cidade. Tomamos um bom vinho com caldo de ervilhas e legumes, acompanhados de torradas e um provolone delicioso, na Casa dos Caldos depois de comprarmos peças esculpidas em pedra-sabão na feirinha de artesanatos.
     Especial mesmo foi ter lido O amor infeliz de Marília e Dirceu, de Augusto de Lima Júnior que narra a estória de amor entre Dirceu, pseudônimo do inconfidente Tomaz Antônio Gonzaga e Marília, pseudônimo de sua amada, Maria Dorotéia, podendo ver e sentir na pele toda a história que exala na antiga Vila Rica.
     Inebriado por toda aventura no tempo do império, publico a Lira XVII de Dirceu para sua amada Marília:


 Lira XVII


Minha Marília,
Tu enfadada?
Que mão ousada
Perturbar pode
A paz sagrada
Do peito teu?
Porém que muito
Que irado esteja
O teu semblante!
Também troveja
O claro Céu.

Eu sei, Marília,
Que outra Pastora
A toda hora,
Em toda a parte
Cega namora
Ao teu Pastor.
Há sempre fumo
Aonde há fogo:
Assim, Marília,
Há zelos, logo
Que existe amor.

Olha, Marília
Na fonte pura
A tua alvura,
A tua boca,
E a compostura
Das mais feições.
Quem tem teu rosto
Ah! não receia
Que terno amante
Solte a cadeia,
Quebre os grilhões.

Não anda Laura
Nestas campinas
Sem as boninas
No seu cabelo,
Sem peles finas
No seu jubão.
Porém que importa?
O rico asseio
Não dá, Marília,
Ao rosto feio
A perfeição.

Quando apareces
Na madrugada,
Mal embrulhada
Na larga roupa,
E desgrenhada
Sem fita, ou flor;
Ah! que então brilha
A natureza!
Então se mostra
Tua beleza
Inda maior.

Tomaz Antônio Gonzaga

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