Sinhazinha
Acabo de ler o livro Sinhazinha, de Afrânio Peixoto, na sua edição de bolso da Ediouro, com o texto completo.
O livro, lançado em 1929, conta a história de ódio entre duas famílias do sertão baiano no século XIX, os Silva Castro, de Curralinho, antigo nome da cidade de Castro Alves, e os Canguçus, de Bom Jesus dos Meiras, antigo nome de Brumado.
Embora a história seja uma ficção ela se baseia em terrível acontecimento, fato real entre as duas famílias, na qual uma das personagens principais é a tia do poeta Castro Alves, filha do major José Antonio da Silva Castro, que foi um herói da independência da Bahia, comandando o famoso batalhão dos Periquitos, no qual tomou parte a heroína baiana, Maria Quitéria, lutando como soldado ao lado dos homens.
O major Silva Castro, tinha mania de batizar as filhas com nomes romanos, daí a personagem verdadeira da história tenha este nome, que hoje nos parece tão estranho, de Pórcia, enquanto sua irmã, a mãe do poeta, chamava-se Clélia Brasília.
Sucede que o major tinha também uma fazenda em Caetité, onde levava a família para passar o verão devido ao clima mais ameno. E numa dessas temporadas, no ano de 1845, abateu-se sobre a Bahia uma das terríveis secas que assolam o nordeste cíclicamente, obrigando a família a bater em retirada, viagem penosa feita à cavalo, sob o sol inclemente.
Para descansar, pousaram na fazenda dos Canguçus, gente próxima à família do major, em razão das lutas da independência. Essa família tinha se empenhado de tal modo pela independência do Brasil, que após sua conquista resolveram renegar suas raízes portuguesas, acrescentado ao Pinheiro o nome Canguçu, que na língua indígena significava a onça pintada.
Sucede que durante o pouso, que durou vários dias, um dos Canguçus, chamado Leolino, que já era casado, se apaixonou por Pórcia, amor correspondido pela filha do major. Na partida da família, esse jovem interceptou a comitiva, já nos limites da fazenda, e sequestrou a jovem que partiu com ele de bom grado, indo os dois se arrancharem num pequeno sítio, onde passaram a viver guardados por vários capangas, longe das duas famílias.
O major Silva Castro, porém, inconformado com a traição da filha e dos Canguçus, não desistiu de recuperar a filha e, num descuido de Leolino, que viajara a negócios deixando Pórcia aos cuidados de seus homens, atacou o sítio, com auxílio das famílias Moura e Medrado, resgatando-a, não sem antes matar a facão o filho de apenas um ano que havia nascido da união dos dois.
O resgate dramático, contra a vontade da filha e vitimando de forma brutal seu próprio neto, que foi esquartejado à vista da mãe, porque o major não queria ter na família alguém com o sangue dos Canguçus, levou a uma longa guerra entre as famílias, que durou gerações.
É neste ambiente de rixa familiar, que Afrânio Peixoto desenvolve seu romance, entre um caixeiro viajante e a filha de um fazendeiro, que seria da linhagem dos Canguçus e teria sequestrado sua esposa da família Moura, aliado dos Silva Castro. É portanto um romance histórico, que embora ficcional, se desenvolve à luz de fatos reais, desvendando a realidade do sertão baiano no século XIX.
A beleza instigante da história só se percebe ao final, quando vem à tôna o papel da mulher do fazendeiro, no sentido de desatar o nó de ódio que unia as duas famílias. Sutilmente, e sem ser percebida, esta mulher traça sua teia, criando um fato que vai tornar impossível a continuação da vendetta entre os Canguçus e os Mouras.
Uma obra belíssima, curta e de uma delicadeza inesperada, escrita por este baiano de Lençóis, nascido em 1876 e falecido no Rio de Janeiro em 1947. Imprescindível para quem quiser entender a história dos sertões baianos.
O livro, lançado em 1929, conta a história de ódio entre duas famílias do sertão baiano no século XIX, os Silva Castro, de Curralinho, antigo nome da cidade de Castro Alves, e os Canguçus, de Bom Jesus dos Meiras, antigo nome de Brumado.
Embora a história seja uma ficção ela se baseia em terrível acontecimento, fato real entre as duas famílias, na qual uma das personagens principais é a tia do poeta Castro Alves, filha do major José Antonio da Silva Castro, que foi um herói da independência da Bahia, comandando o famoso batalhão dos Periquitos, no qual tomou parte a heroína baiana, Maria Quitéria, lutando como soldado ao lado dos homens.
O major Silva Castro, tinha mania de batizar as filhas com nomes romanos, daí a personagem verdadeira da história tenha este nome, que hoje nos parece tão estranho, de Pórcia, enquanto sua irmã, a mãe do poeta, chamava-se Clélia Brasília.
Sucede que o major tinha também uma fazenda em Caetité, onde levava a família para passar o verão devido ao clima mais ameno. E numa dessas temporadas, no ano de 1845, abateu-se sobre a Bahia uma das terríveis secas que assolam o nordeste cíclicamente, obrigando a família a bater em retirada, viagem penosa feita à cavalo, sob o sol inclemente.
Para descansar, pousaram na fazenda dos Canguçus, gente próxima à família do major, em razão das lutas da independência. Essa família tinha se empenhado de tal modo pela independência do Brasil, que após sua conquista resolveram renegar suas raízes portuguesas, acrescentado ao Pinheiro o nome Canguçu, que na língua indígena significava a onça pintada.
Sucede que durante o pouso, que durou vários dias, um dos Canguçus, chamado Leolino, que já era casado, se apaixonou por Pórcia, amor correspondido pela filha do major. Na partida da família, esse jovem interceptou a comitiva, já nos limites da fazenda, e sequestrou a jovem que partiu com ele de bom grado, indo os dois se arrancharem num pequeno sítio, onde passaram a viver guardados por vários capangas, longe das duas famílias.
O major Silva Castro, porém, inconformado com a traição da filha e dos Canguçus, não desistiu de recuperar a filha e, num descuido de Leolino, que viajara a negócios deixando Pórcia aos cuidados de seus homens, atacou o sítio, com auxílio das famílias Moura e Medrado, resgatando-a, não sem antes matar a facão o filho de apenas um ano que havia nascido da união dos dois.
O resgate dramático, contra a vontade da filha e vitimando de forma brutal seu próprio neto, que foi esquartejado à vista da mãe, porque o major não queria ter na família alguém com o sangue dos Canguçus, levou a uma longa guerra entre as famílias, que durou gerações.
É neste ambiente de rixa familiar, que Afrânio Peixoto desenvolve seu romance, entre um caixeiro viajante e a filha de um fazendeiro, que seria da linhagem dos Canguçus e teria sequestrado sua esposa da família Moura, aliado dos Silva Castro. É portanto um romance histórico, que embora ficcional, se desenvolve à luz de fatos reais, desvendando a realidade do sertão baiano no século XIX.
A beleza instigante da história só se percebe ao final, quando vem à tôna o papel da mulher do fazendeiro, no sentido de desatar o nó de ódio que unia as duas famílias. Sutilmente, e sem ser percebida, esta mulher traça sua teia, criando um fato que vai tornar impossível a continuação da vendetta entre os Canguçus e os Mouras.
Uma obra belíssima, curta e de uma delicadeza inesperada, escrita por este baiano de Lençóis, nascido em 1876 e falecido no Rio de Janeiro em 1947. Imprescindível para quem quiser entender a história dos sertões baianos.
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