Um gigante
Prezados leitores.
Passei o fim de semana me deliciando com a leitura de Joaquim Nabuco - Essencial; um livro que nos apresenta os principais textos desse pensador abolicionista do século XIX (Companhia das Letras, 2010 - organização de Evaldo Cabral de Mello).
Nabuco foi, sem dúvida, um gigante, desses que a natureza nos envia de tempos em tempos para abrir nossos caminhos.
Nabuco foi, sem dúvida, um gigante, desses que a natureza nos envia de tempos em tempos para abrir nossos caminhos.
Além da clareza de suas ideias e do conteúdo heróico de sua luta contra a escravidão, Nabuco nos brinda com um estilo marcante de escrever e falar (o livro transcreve alguns discursos dele durante uma campanha eleitoral), que transformam essa obra numa grata surpresa para quem está acostumado à mesquinharia do debate político atual no Brasil.
Como nos faz falta hoje uma voz lúcida e corajosa como a desse pernambucano destemido, que ousou lutar pela transformação do Brasil!
E como algumas de suas falas são ainda atuais, mostrando que a influência nefasta da escravidão, essa instituição criminosa que manchou nosso país por quase quatrocentos anos, ainda nos prejudica, moldando nossa maneira de pensar e agir, principalmente nas pequenas cidades do interior, nos grotões atrasados, que representam a maioria dos nossos municípios.
Vejamos alguns desses trechos:
"Num tempo em que o servilismo e a adulação são a escada pela qual se sobe, e a independência e o caráter a escada pela qual se desce; em que a inveja é uma paixão dominante; em que não há outras regras de promoção, nem provas de suficiência, senão o empenho e o patronato; quando ninguém, que não se faça lembrar, é chamado para coisa alguma, e a injustiça é ressentida apenas pelo próprio ofendido: os empregados públicos são os servos da gleba do governo, vivem com suas famílias em terras do Estado, sujeitos a uma evicção sem aviso, que equivale à fome, numa dependência da qual só para os fortes não resulta a quebra do caráter. Em cada um dos sintomas característicos da hipertrofia do funcionalismo, como ela se apresenta no Brasil, quem tenha estudado a escravidão reconhece logo um dos seus efeitos."
",...a escravidão por instinto procedeu repelindo a escola, a instrução pública e mantendo o país na ignorância e escuridão, que é o meio em que ela pode prosperar. A senzala e a escola são pólos que se repelem."
"O sistema representativo é, assim, um enxerto de formas parlamentares num governo patriarcal, e senadores e deputados só tomam ao sério o papel que lhes cabe nessa paródia da democracia pelas vantagens que auferem"
"A verdade é que esse governo é o resultado direto, imediato, da prática da escravidão pelo país. Um povo que se habitua a ela não dá valor à liberdade nem aprende a governar-se a si mesmo."
O mais interessante em Nabuco, é que ele avança muito além da condenação da escravidão pelo seu aspecto de desumanidade e crueldade, que vitimou milhões de brasileiros durante séculos, mas nos explica com clareza como esse sistema apodreceu todo o nosso sistema político, econômico e social, viciando a nação em práticas que são as causas do nosso atraso atual, e contra as quais ainda lutamos até hoje.
Vale a pena redescobrir esse pensador e incorporá-lo as nossas leituras, especialmente nas escolas, para que os jovens tenham consciência das origens dos problemas políticos contemporâneos.
"Num tempo em que o servilismo e a adulação são a escada pela qual se sobe, e a independência e o caráter a escada pela qual se desce; em que a inveja é uma paixão dominante; em que não há outras regras de promoção, nem provas de suficiência, senão o empenho e o patronato; quando ninguém, que não se faça lembrar, é chamado para coisa alguma, e a injustiça é ressentida apenas pelo próprio ofendido: os empregados públicos são os servos da gleba do governo, vivem com suas famílias em terras do Estado, sujeitos a uma evicção sem aviso, que equivale à fome, numa dependência da qual só para os fortes não resulta a quebra do caráter. Em cada um dos sintomas característicos da hipertrofia do funcionalismo, como ela se apresenta no Brasil, quem tenha estudado a escravidão reconhece logo um dos seus efeitos."
",...a escravidão por instinto procedeu repelindo a escola, a instrução pública e mantendo o país na ignorância e escuridão, que é o meio em que ela pode prosperar. A senzala e a escola são pólos que se repelem."
"O sistema representativo é, assim, um enxerto de formas parlamentares num governo patriarcal, e senadores e deputados só tomam ao sério o papel que lhes cabe nessa paródia da democracia pelas vantagens que auferem"
"A verdade é que esse governo é o resultado direto, imediato, da prática da escravidão pelo país. Um povo que se habitua a ela não dá valor à liberdade nem aprende a governar-se a si mesmo."
O mais interessante em Nabuco, é que ele avança muito além da condenação da escravidão pelo seu aspecto de desumanidade e crueldade, que vitimou milhões de brasileiros durante séculos, mas nos explica com clareza como esse sistema apodreceu todo o nosso sistema político, econômico e social, viciando a nação em práticas que são as causas do nosso atraso atual, e contra as quais ainda lutamos até hoje.
Vale a pena redescobrir esse pensador e incorporá-lo as nossas leituras, especialmente nas escolas, para que os jovens tenham consciência das origens dos problemas políticos contemporâneos.
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