segunda-feira, 8 de julho de 2013

POLITICANDO

 Reformas
 
     A evolução política no Brasil, nas últimas semanas, revela que a presidente Dilma Roussef, apesar de estar fazendo um bom governo, no sentido de preparar o país para um longo ciclo de crescimento e mantê-lo afastado da crise internacional, não tem a sensibilidade de Lula para dialogar com os anseios políticos da nação.
     A acusação mais séria que se fazia a ela, pela oposição, está se revelando verdadeira: a de que ela ao se tornar presidente, não seria uma líder, mas uma gerente do Brasil.
     Embora devamos reconhecer a lisura da presidente em tentar afastar os corruptos e reorganizar as finanças e o setor produtivo, investindo no futuro, não podemos deixar de constatar que ela deixou de lado importantes questões políticas, como a da representatividade do povo, fundamental numa democracia, tudo em nome da governabilidade.
     Seríamos injustos se disséssemos que foi ela quem inventou esse sistema, utilizado por todos os presidentes, desde a Constituinte que redemocratizou o Brasil; de distribuir favores e cargos em troca de apoio no Congresso, amesquinhando todo o processo representativo. Mas é justo afirmar que ela não tentou, em nenhum momento mudar esta situação, implementando as reformas políticas necessárias para aperfeiçoar nosso sistema representativo.
     Pode-se dizer a seu favor, que a responsabilidade não cabia a ela, mas ao próprio Congresso Nacional. Mas como esperar que um Congresso, nascido de um sistema distorcido pelas coligações oportunistas e carreiristas, possa, ele mesmo, vir a se reformar? Estão nos faltando, portanto, lideranças políticas capazes de apontar os rumos que a nação deve seguir para sair desse atoleiro, onde o Congresso não funciona a não ser através de uma maioria comprada, e o executivo não consegue trabalhar a não ser com a maioria do parlamento.
     Se Lula teve sensibilidade para trazer os trabalhadores para o centro da economia nacional, promovendo seu ingresso nas classes consumidoras, tirando-os do atraso e da pobreza em que vegetavam, se teve a sensibilidade de realinhar a política externa do Brasil, afinando-a com seus reais interesses e os do povo, retirando o Brasil da órbita dos países imperialistas que só faziam nos sugar, pagando a dívida externa, nos alçando a uma voz que se faz ouvir no mundo e liderando o processo de integração da América Latina, não teve, no entanto, a mesma preocupação, ou melhor dizendo, nenhuma preocupação, em lutar contra o oportunismo que faz da política uma carreira voltada para si própria, em detrimento do interesse público.
     Se Dilma não o fez, nenhum presidente do período democrático antes dela tampouco o fez.
     Daí a situação ter chegado ao ponto explosivo de insatisfação nacional, levando os manifestantes a expulsarem os partidos políticos de suas passeatas, por suspeitarem que sua presença seria apenas mais um ato de oportunismo eleitoral, como tantos outros que vem marcando nossa vida política.
     A proposta inicial da presidente, de fazer uma Constituinte Exclusiva Revisora, é a mais sensata, pois permitiria à nação repensar seu sistema político e corrigir tudo que está errado, tirando do atual sistema, contaminado pelo oportunismo e pela troca de favores, a iniciativa de se auto-reformar.
     É claro que ao Congresso atual não podia agradar tal proposta, pois significa na prática o fim de seus privilégios, que fazem a fortuna de poucos, em detrimento dos milhões de brasileiros. O recuo da presidente, naturalmente por influência de assessores comprometidos com o sistema atual, foi apressado, e deixou tudo na estaca zero.
     Fazer apenas um plebiscito sem uma discussão profunda das reformas sistêmicas que precisam ser feitas não vai resolver nada, mas apenas dar uma sobrevida a situação atual.
     O certo, como diz o presidente do PT, Rui Falcão, seria fazer as duas coisas. Um plebiscito que mude as normas eleitorais agora, para em seguida se eleger uma constituinte revisora que faça uma reforma profunda, adequando o sistema político à nova economia democrática e sustentável que está sendo fundada, transformando definitivamente o Brasil numa nação desenvolvida e civilizada.
     

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